Um vídeo colocado no YouTube mostra o eurodeputado português, Paulo Casaca, a dançar com elementos do grupo Mujahedines do Povo. Aconteceu no início de Janeiro numa base próxima de Bagdade.
Um vídeo colocado no YouTube mostra o eurodeputado português Paulo Casaca a dançar com membros do grupo Mujahedin do Povo, uma organização classificada como terrorista pela União Europeia e pelos Estados Unidos. Em declarações ao EXPRESSO, o eurodeputado socialista confirma ter participado, no início de Janeiro, em reuniões bilaterais com elementos da resistência iraniana, no Campo Ashraf, durante uma visita ao Iraque "com o objectivo de lançar a plataforma 'Irak With a Future'". Ao seu lado no vídeo surge também André Brie, um eurodeputado alemão da Esquerda Unitária europeia. Esteve no Iraque entre 4 e 8 de Janeiro como dirigente da Associação Amigos do Irão. Casaca é também membro da Associação Amigos de Israel e do Comité 1559 (que luta pelo desarmamento do Hezbollah no Líbano).
Não se sentindo incomodado com o facto de o vídeo (que o mostra a dançar uma música tradicional curda e outra azeri) ter sido colocado na Internet, o eurodeputado revela que já escreveu ao YouTube para que alterem o título da notícia – "Paulo Casaca, Dancing with terrorists". E lembra que "quem colocou o vídeo no YouTube e o passou na televisão iraniana foi o regime iraniano que, consciente da sua prática terrorista, acusa permanentemente os adversários" e diz-se ofendido porque "o Tribunal de Justiça da UE retirou este grupo da lista de organizações terroristas", como ele sempre defendeu.
Porém, os factos não são tão lineares assim. "Não saiu, nem vai ser retirada da lista" – é desta forma peremptória que fonte do Conselho de Ministros da UE explica ao EXPRESSO a actual situação dos Mujahedin-e Khaklq (MEK), os Mujahedin do Povo – grupo oposicionista iraniano, incluído desde 2004 na lista de organizações terroristas da UE. Em Dezembro de 2006, o Tribunal de Primeira Instância da União anulou a decisão do Conselho de incluir o MEK na lista de organizações terroristas da UE e o subsequente congelamento dos seus bens, por considerar que não tinham sido observados "certos direitos e garantias fundamentais, incluindo o direito a uma audiência justa".
Na altura, o chefe do serviço jurídico do Conselho estimou que a decisão do Tribunal não punha em causa nem a lista, nem a inclusão do MEK, tratando-se de uma questão "de procedimento". Um responsável comunitário explicou ao EXPRESSO que, no entender dos juristas do Conselho, a instituição é apenas obrigada a explicar às organizações em causa, neste caso o MEK, as razões pelas quais decidiu incluir o seu nome na lista e congelar os respectivos bens.
"O Conselho vai fazer o que o Tribunal disse e na próxima semana ou pouco depois será enviada uma carta ao MEK para os informar da decisão", pelo que a inclusão da organização na lista e o congelamento dos respectivos bens "são para manter", acrescentou a mesma fonte.
O MEK integra a lista de pessoas, entidades e organizações terroristas da União desde a respectiva criação, em Maio de 2002, no âmbito do dispositivo comunitário de luta antiterrorista impulsionado depois dos atentados de 11 de Setembro de 2001, nos Estados Unidos. E aí tem permanecido nas sucessivas actualizações, a última das quais teve lugar em Maio de 2006, conforme explicou a referida fonte.
Já do outro lado do Atlântico, os Mujahedin integram uma lista semelhante desde 1997 e o braço político da organização, o Conselho Nacional da Resistência do Irão (CNRI), foi acrescentado em 2003. A UE optou por manter o CNRI fora da lista. Actualmente, da referida lista europeia fazem parte 54 indivíduos e 50 grupos, entre os quais a ETA e o Hamas.
O MEK foi criado na década de 60 como oposição ao então regime do Xá. Depois da revolução islâmica de 1979 entra em rota de colisão com o "regime dos ayatollahs", que começa combater militarmente a partir do Iraque, onde contou com a protecção e apoio de Saddam Hussein. Depois do derrube de Saddam, a organização manteve a sua base em Ashraf, a nordeste de Bagdade.
Carla Tomás, Expresso, 19 de Janeiro de 2007 [fonte]
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