quinta-feira, 25 de junho de 2009

Oração de Sexta-feira de S. Ex. Ayatollah Ali Khamenei, Líder Supremo da República Islâmica do Irão

A Embaixada da República Islâmica do Irão apresenta o seuscumprimentos e tem a honra de informar que;

Nos discursos da Oração de Sexta-feira, Sua Excelência Ayatollah Ali Khamenei, o Líder Supremo do Irão explicou os problemas relacionados com as eleições presidênciais da República Islâmica do Irão. Neste discurso, o Lider declarou que os quase 40 milhões de iranianos participaram nas eleições de 12 de Junho no Irão, com uma taxa 85% de participação, e que as diferenças entre o Presidente reeleito com o seu rival eleitoral sobre os resultados das eleições, são um assunto interno das famílias iranianas. E foi pedido aos países estrangeiros para não intervirem nos assuntos internos do Irão.

O Líder Supremo considerou que a única via para seguir os protestos contra os resultados das eleições presidências do Irão é a via legal, e pediu que, em vez de chamar os apoiantes dos candidatos para as ruas e pressionar o comité das eleições, escolhessem as provas concretas sobre os seus protestos e apresenta-las à Comissão das eleições. O Ayatollah Khamenei declarou, também, que a desobedência à lei e às vias legais são o início da ditaura e uma situação perigosa para o futuro do país.

Como os assuntos e os protestos contra os resultados das eleições foram suficientemente apresentados neste discuro, é conveniente que todos os assuntos que são elaborados e divulgados nos médias sejam apresentados directamente às altas autoridades responsáveis do Irão e que as opiniões directas das altas autoridades do Irão sejam recebidas e avaliadas.

O completo discurso da Sua Excelência Senhor Ayatollah Khamenei proferido na oração de Sexta-feira está apresentado, em inglês, em:

http://www.youtube.com/watch?v=Co2r-iNMpBs

http://www.youtube.com/watch?v=jFDtmuDeIbs

Por causa de ser longo do discurso, o mesmo está apresentado em duas partes: 29 minutos iniciais do discurso, a primeira parte, está no primeiro link, e o restante, no segundo.

Além destes dois links, o resumo, em inglês, do discurso de Sua Excelência Ayatollah Khamenei encontra-se no link seguinte:

http://english.khamenei.ir//index.php?option=comcontent&task=view&id=1137

Embaixada da República Islâmica do Irão
Rua Alto do Duque, 49
1400-009 Lisboa
Tel.: 21 30 41 850
Fax: 21 30 10 777

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A CIA e o laboratório iraniano

A notícia de uma possível fraude eleitoral espalhou-se em Teerão como um rastilho de pólvora e levou à rua os partidários do aiatola Rafsanjani contra o do aiatola Khamenei. Este caos é provocado à socapa pela CIA, que semeia a confusão inundando os iranianos de mensagens SMS contraditórias. Aqui esta o relato desta experiência de guerra psicológica.

Em Março de 2000 a secretária de Estado Madeleine Albright admitiu que a administração Eisenhower havia organizado uma mudança de regime no Irão, em 1953, e que este acontecimento histórico explica a hostilidade actual dos iranianos face aos Estados Unidos. Na semana passada, aquando do seu discurso no Cairo dirigido aos muçulmanos, o presidente Obama reconheceu oficialmente que "em plena Guerra Fria os Estados Unidos desempenharam um papel na derrubada de um governo iraniano eleito democraticamente" [1] .

Na época, o Irão era controlado por uma monarquia de opereta dirigida pelo xá Mohammad Reza Pahlavi. Ele fora colocado no trono pelos britânicos, que haviam forçado o seu pai, o oficial cossaco pro-nazi Reza Pahlavi, a demitir-se. Contudo, o xá teve de ajustar-se a um primeiro-ministro nacionalista, Mohammad Mossadegh. Este, com a ajuda do aiatola Abou al-Qassem Kachani, nacionaliza os recursos petrolíferos [2] . Furiosos, os britânicos convencem os Estados Unidos de que é preciso travar a deriva iraniana antes que o país afunde no comunismo. A CIA põe então em acção a Operação Ajax visando derrubar Mossadegh, com a ajuda do xá, e substituí-lo pelo general nazi Fazlollah Zahedi, até então detido pelos britânicos. Ele instalará o regime de terror mais cruel daquela época, ao passo que o xá servirá de cobertura para as suas exacções posando para as revistas populares ocidentais.

A operação Ajax foi dirigida pelo arqueólogo Donald Wilber, pelo historiador Kermit Roosevelt (neto do presidente Theodore Roosevelt) e pelo general Norman Schwartzkopf Sr. (cujo filho homónimo comandou a operação Tempestade do Deserto). Ela permanece um modelo de subversão. A CIA imagina um cenário que dá a impressão de um levantamento popular quando se trata de uma operação secreta. O auge do espectáculo foi uma manifestação em Teerão com 8000 figurantes pagos pela Agência a fim de fornecer fotos convincentes à imprensa ocidental [3] .

A história repetir-se-ia? Washington renunciou a atacar militarmente o Irão e dissuadiu Israel de tomar uma tal iniciativa. Para chegar a "mudar o regime", a administração Obama prefere jogar a carta — menos perigosa, mas mais aleatória — da acção secreta. Após a eleição presidencial iraniana, vastas manifestações opuseram nas ruas de Teerão os partidários do presidente Mahmoud Ahmadinejad e do guia Ali Khamenei, de um lado, aos partidários do candidato perdedor Mir-Hossein Mousavi e do ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani do outro. Elas traduziam uma profunda clivagem na sociedade iraniana entre um proletariado nacionalista e uma burguesia que lamenta ser mantida afastada da globalização económica. Agindo debaixo do pano, Washington tenta pesar nos acontecimentos para remover o presidente eleito.

Mais uma vez, o Irão é um campo de experimentação de métodos inovadores de subversão. A CIA apoia-se numa arma nova: o domínio dos telefones móveis.

Desde a generalização dos telefones móveis, os serviços secretos anglo-saxões multiplicaram as suas capacidades de intercepção. Enquanto a escuta dos telefones por fio precisa da colocação de ganchos de derivação, portanto de agentes no local, a escuta dos portáteis pode ser feita à distância graças à rede Echelon. Contudo, este sistema não permite intercepção das comunicações telefónicas via Skype — daí o êxito dos telefones Skype nas zonas de conflito [4] . A National Security Agency (NSA) acaba de fazer diligências junto aos fornecedores de acesso Internet do mundo inteiro para obter a sua colaboração. Aqueles que aceitaram foram muito bem pagos [5] .

Nos países que ocupam — Iraque, Afeganistão e Paquistão —, o anglo-saxões interceptam a totalidade das conversações telefónicas quer seja emitidas por telemóveis ou por aparelhos com fio. A finalidade não é dispor de transcrições de tal ou tal conversação, mas identificar as "redes sociais". Por outras palavras, os telefones são espiões que permitem saber com quem uma dada pessoa está em relação. Partindo daí, pode-se esperar identificar as redes de resistência. Num segundo tempo, os telefones permitem localizar os alvos identificados — e "neutralizá-los".

Eis porque, em Fevereiro de 2008, os insurrectos afegãos ordenam aos diversos operadores para cessarem a sua actividade a cada dia das 17 horas às 3 da manhã, de maneira a impedir os anglo-saxões de seguirem os seus deslocamentos. As antenas-relais daqueles que contrariaram esta ordem foram destruídas [6] .

Inversamente, – excepto uma central telefónica atingida por erro –, as forças israelenses trataram de não bombardear as antenas de telemóveis em Gaza, aquando a operação Chumbo endurecido, em Dezembro/2008-Janeiro/2009. Trata-se de uma mudança completa de estratégia da parte dos ocidentais. Desde a guerra do Golfo prevalecia a "teoria dos cinco círculos" do coronel John A. Warden: o bombardeamento das infraestruturas telefónicas era considerado como um objectivo estratégico tanto para mergulhar a população na confusão como para cortar as comunicações entre os centros de comando e os combatentes. Doravante, é ao contrário: é preciso proteger as infraestruturas de telecomunicações. Durante os bombardeamentos de Gaza, o operador Jawwal [7] ofereceu crédito aos seus assinantes, oficialmente para ajudá-los, de facto no interesse dos israelenses.

Dando mais um passo, os serviços secretos anglo-saxões e israelenses desenvolveram métodos de guerra psicológica baseados na utilização extensa dos telemóveis. Em Julho de 2008, após a troca de prisioneiros e feridos entre Israel e o Hezbollah, robots lançaram dezenas de milhares de mensagens para telemóveis libaneses. Um voz em árabe advertia contra toda participação na Resistência e difamava o Hezbollah. O ministro libanês das telecomunicações, Jibran Bassil [8] , apresentou uma queixa à ONU contra esta flagrante violação da soberania do país [9] .

Com base no mesmo modelo, dezenas de milhares de libaneses e sírios receberam uma chamada automática em Outubro de 2008 propondo-lhes 10 milhões de dólares contra toda informação que permitisse localizar e entregar soldados israelenses prisioneiros. As pessoas interessadas em colaborar eram convidadas a ligar para um número no Reino Unido [10] .

Este método acaba de ser empregue no Irão para intoxicar a população difundindo notícias chocantes, e para canalizar o descontentamento que elas provocam.

Em primeiro lugar, trata-se de difundir por SMS durante a noite dos tumultos a notícia segundo a qual o Conselho dos Guardiões da Constituição (o equivalente ao Tribunal Constitucinal) havia informado Mir-Hossein Mousavi da sua vitória. A partir daí, o anúncio, várias horas mais tarde, dos resultados oficiais — a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad com 65% dos votos expressos — parecia uma fraude gigantesca. Entretanto, três dias antes, o sr. Mousavi e os seus amigos consideravam a vitória maciça do sr. Ahmadinejad como certa e esforçavam-se por explicá-la pelos desequilíbrios na campanha eleitoral. Assim, o ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani pormenorizava as suas queixas numa carta aberta. Os institutos de sondagem dos EUA no Irão prognosticavam um avanço de 20 pontos percentuais do sr. Amadinejad sobre o sr. Mousavi [11] . Em momento algum a vitória do sr. Mousavi pareceu possível, mesmo sendo provável que fraudes tenham acentuado a margem entre os dois candidatos.

. Num segundo tempo, foram seleccionados cidadãos, ou deram-se a conhecer na Internet, para conversar no Facebook ou assinar mensagens do Twitter. Eles receberam então, sempre por SMS, informações — verdadeiras ou falsas — sobre a evolução da crise política e as manifestações em curso. Eram mensagens anónimas que difundiam notícias de fuzilamentos e numerosos mortos; notícias até hoje não confirmadas. Por um infeliz azar de calendário, a sociedade Twitter devia suspender o seu serviço durante uma noite, o tempo necessário para a manutenção das suas instalações. Mas o Departamento de Estado dos Estados Unidos interveio para lhe pedir que adiasse esta operação [12] . Segundo o New York Times, estas operações contribuem para semear a desconfiança na população [13] .

Simultaneamente, num esforço novo, a CIA mobiliza os militantes anti-iranianos nos EUA e no Reino Unidos para aumentar a desordem. Um Guia prático da revolução no Irão foi-lhes distribuído. Ele inclui vários conselhos práticos, tais como:
# acertar as contas Twitter no fuso horário de Teerão;
# centralizar as mensagens nas contas Twitter @stopAhmadi, #iranelection et #gr88;
# não atacar os sítios internet oficiais do Estado iraniano. "Deixem isso para o exército dos EUA" (sic).

Uma vez aplicados, estes conselhos impedem toda autenticação das mensagens Twitter. Já não se pode saber se eles são enviados por testemunhas das manifestações em Teerão ou por agentes da CIA em Langley, e não se pode mais distinguir o verdadeiro do falso. O objectivo é criar cada vez mais confusão e levar os iranianos a lutarem entre si.

Os estados-maiores, por toda a parte do mundo, seguem com atenção os acontecimentos em Teerão. Cada um deles tenta avaliar a eficácia deste novo método de subversão no laboratório iraniano. É evidente que o processo de desestabilização funcionou. Mas não é seguro que a CIA possa canalizar os manifestantes para que eles façam por si mesmos aquilo que o Pentágono recusou fazer e que eles não têm qualquer vontade de fazer: mudar o regime, acabar com a revolução islâmica.
17/Junho/2009
[1] "Discours à l'université du Caire" , por Barack Obama, Réseau Voltaire, 4 juin 2009.
[2] "BP-Amoco, coalition pétrolière anglo-saxonne" , par Arthur Lepic, Réseau Voltaire, 10 juin 2004.
[3] Sobre o golpe de 1953, a obra de referênci é All the Shah's Men : An American Coup and the Roots of Middle East Terror, par Stephen Kinzer, John Wiley & Sons éd (2003), 272 pp. Para os leitores francófonos, assinalamos o último capítulo do livro recente de Gilles Munier, Les espions de l'or noir , Koutoubia éd (2009), 318 pp.
[4] "Taliban using Skype phones to dodge MI6" , par Glen Owen, Mail Online, 13 septembre 2008.
[5] "NSA offering 'billions' for Skype eavesdrop solution" , par Lewis Page, The Register, 12 février 2009.
[6] "Taliban Threatens Cell Towers" , par Noah Shachtman, Wired, 25 février 2008.
[7] Jawwal est la marque de PalTel, la société du milliardaire palestinien Munib Al-Masri.
[8] Jibran Bassil é um dos líderes principais da Courant patriotique libre, o partido nacionalista de Michel Aoun.
[9] " Freed Lebanese say they will keep fighting Israel ", Associated Press, 17 juillet 2008.
[10] O autor deste artigo foi testemunha destes apelos. Pode-se também consultar "Strange Israeli phone calls alarm Syrians. Israeli intelligence services accused of making phone calls to Syrians in bid to recruit agents ", Syria News Briefing, 4 décembre 2008.
[11] Citado em "Ahmadinejad won. Get over it" , por Flynt Leverett e Hillary Mann Leverett, Politico, 15 juin 2009.
[12] " U.S. State Department speaks to Twitter over Iran ", Reuters, 16 juin 2009.
[13] "Social Networks Spread Defiance Online" , por Brad Stone e Noam Cohen, The New York Times, 15 juin 2009.

Ver também: Irão: Google e Facebook lançam ferramentas em farsi.

O original encontra-se em http://www.voltairenet.org/article160639.html

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/.

Irão: A mentira das "eleições roubadas"

"Mudança para os pobres significa comida e empregos, não um código de vestuário descontraído ou recreações diversas... A política no Irão é muito mais sobre guerra de classe do que sobre religião".
Editorial do Financial Times, 15/Junho/2009

Introdução

Dificilmente haverá qualquer eleição, na qual a Casa Branca tenha um interesse significativo, em que a derrota eleitoral do candidato pró EUA não seja denunciada como ilegítima por todos os políticos e mass media da elite. Nos últimos tempos, a Casa Branca e os seguidores gritaram infracção após as livres (e monitoradas) eleições na Venezuela e em Gaza, enquanto alegremente fabricaram um "êxito eleitoral" no Líbano apesar do facto de a coligação liderada pelo Hezbollah ter recebido mais de 53% dos votos.

As eleições concluídas a 12 de Junho de 2009 no Irão são um caso clássico. O candidato à reeleição, o nacionalista-populista presidente Mahmoud Ahmadinejad (MA) recebeu 63,3% da votação (ou 24,5 milhões de votos), ao passo que o principal candidato da oposição liberal, apoiado pelo Ocidente, Hossein Mousavi (HM) recebeu 34,2% (ou 13,2 milhões de votos).

A eleição presidencial iraniana atraiu um comparecimento recorde de mais de 80% do eleitorado, incluindo uma votação sem precedentes 234.812 do estrangeiro, na qual HM obteve 111.792 e MA 78.300. A oposição liderada por HM não aceitou a sua derrota e organizou uma série de manifestações de massa que se tornaram violentas, resultando na queima e destruição de automóveis, bancos, edifícios públicos e confrontações armadas com a polícia e outras autoridades. Quase todo o espectro de fazedores de opinião ocidentais, incluindo todos os grandes media electrónicos e impressos, os principais sítios web liberais, radicais, libertários e conservadores, reflectiram a queixa da oposição de fraude eleitoral desenfreada. Neo-conservadores, conservadores libertários e trotsquistas juntaram-se aos sionistas louvando os protestários da oposição como a guarda avançada de uma revolução democrática. Democratas e republicanos condenaram o regime, recusaram-se a reconhecer o resultado da votação e louvaram os esforços dos manifestantes para subverter o resultado eleitoral. O New York Times, a CNN, o Washington Post, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel e toda a liderança dos presidentes das principais organizações judias americanas clamaram por sanções mais duras contra o Irão e anunciaram o proposto diálogo de Obama com o Irão como esforço inútil.

A mentira da fraude eleitoral

Os líderes ocidentais rejeitaram os resultados porque "sabiam" que o seu candidato reformista não podia perder... Durante meses publicaram entrevistas diárias, editoriais e reportagens de campo "pormenorizando" os fracassos da administração de Ahmadinejad. Mencionaram o apoio de clérigos, antigos oficiais, comerciantes do bazar e acima de tudo mulheres e jovens de cidades fluentes em inglês para provar que Mousavi estava destinado a uma vitória esmagadora. Uma vitória de Mousavi foi descrita como uma vitória das "vozes moderadas", pelo menos na versão da Casa Branca daquele vago cliché. Eminentes académicos liberais deduziram que a contagem de votos fora fraudulenta porque o candidato da oposição, Mousavi, perdeu no seu próprio enclave étnico entre os azeris. Outros académicos afirmaram que o voto da juventude" – baseado nas suas entrevistas com estudantes universitários da alta e média classe média das vizinhanças do Norte de Teerão eram esmagadoramente a favor do candidato "reformista".

O que é espantoso acerca da condenação universal do Ocidente do resultado eleitoral como fraudulento é que nem uma única partícula de evidência, tanto na forma escrita como de observação, foi apresentada tanto antes como uma semana após a contagem de votos. Durante toda a campanha eleitoral, nenhuma acusação crível (ou mesmo dúbia) de interferência junto aos eleitores foi levantada. Como os media ocidentais acreditaram na sua própria propaganda de uma vitória intrínseca do seu candidato, o processo eleitoral foi descrito como altamente competitivo, com debates públicos candentes e níveis sem precedentes de actividade pública e desembaraçada pelos prosélitos dos candidatos. A crença numa eleição livre e aberta era tão forte que os líderes ocidentais e os mass media acreditaram que o seu candidato favorito venceria.

Os media ocidentais confiaram nos seus repórteres que cobriam a manifestações de massa dos apoiantes da oposição, ignorando e subestimando o enorme comparecimento a favor de Ahmadinejad. Pior ainda, os media ocidentais ignoraram a composição de classe das manifestações competidoras – o facto de que o candidato à reeleição estava a ter o apoio da muito mais numerosa classe trabalhadora pobre, camponeses, artesões e empregados de sectores públicos ao passo que o grosso dos manifestantes da oposição provinha de estudantes da classe alta e média, da classe dos negócios e dos profissionais.

Além disso, a maior parte dos líderes de opinião e repórteres ocidentais baseados em Teerão extrapolou as suas projecções a partir das suas observações na capital – poucos aventuraram-se nas províncias, cidades e aldeias de pequena e média dimensão, onde Ahmadinejad tem a sua base de massa de apoio. Além do mais, os apoiantes da oposição eram uma minoria activista de estudantes facilmente mobilizada para actividades de rua, ao passo que o apoio de Ahmadinejad provinha da maioria da juventude trabalhadora e donas de casa que exprimiriam o seu ponto de vista na urna eleitoral mas tinham pouco tempo ou inclinação para empenhar-se em política de rua.

. Um certo número de sabichões dos jornais, incluindo Gideon Rachmn do Financial Times, apresenta como evidência de fraude eleitoral o facto de Ahmadinejad ter ganho 63% dos votos numa província de língua azeri contra o seu oponente, Mousavi, de etnia azeri. A suposição simplista é que a identidade étnica ou a pertença a um grupo linguístico é a única explicação possível do comportamento eleitoral, ao invés de outros interesses sociais ou de classe.

Um olhar mais atento ao padrão de votação na região Leste-Azerbaijão do Irão revela que Mousavi venceu apenas na cidade de Shabestar entre as classes alta e média (e apenas por uma pequena margem), dado que foi completamente derrotado nas áreas rurais mais vastas, onde as políticas redistributivas do governo Ahmadinejad ajudaram os de etnia azeri a cancelarem dividas, obterem créditos baratos e empréstimos fáceis para os agricultores. Mousavi venceu na região do Azerbaijão Ocidental utilizando suas ligações étnicas para ganhar os eleitores urbanos. Na altamente populosa província de Teerão, Mousavi bateu Ahmadinejad nos centros urbanos de Teerão e Shemiranat ao ganhar o voto dos distritos da classe média e alta, ainda que tenha perdido duramente nos subúrbios adjacentes da classe trabalhadoras, pequenas cidades e áreas rurais.

A ênfase descuidada e distorcida sobre "votação étnica" citada por redactores do Financial Times e do New York Times a fim de apresentar a vitória de Ahmadinejda como uma "eleição roubada" é acompanhada pela obstinada e deliberada vontade dos media de recusarem um rigoroso inquérito de opinião à escala nacional efectuado por dois peritos dos EUA apenas três semanas antes da votação, o qual mostrava Ahmadinejad a liderar por uma margem de 2 para 1 – ainda maior do que a sua vitória eleitoral de 12 de Junho. Este inquérito revelava que entre os de etnia azeri Ahmadinejad era favorecido por uma margem de 2 para 1 em relação a Mousavi, demonstrando como os interesses de classe representados por um candidato podem ultrapassar a identidade étnica do outro candidato ( Washington Post, 15/Junho/2009). O inquérito também demonstrava como as questões de classe, dentro de grupos etários, eram mais influentes na moldagem de preferências políticas do que o "estilo de vida geracional". De acordo com este inquérito, mais de dois terços da juventude iraniana era demasiado pobre para ter acesso a um computador e aqueles com idade dos 18 aos 24 anos "incluíram o bloco eleitoral mais forte a favor de Ahmadinejad entre todos os outros grupos" ( Washington Post, 15/Junho/2009).

O único grupo de apoiou fortemente Mousavi foi o dos estudantes universitários e dos licenciados, donos de negócios e classe média alta. O "voto da juventude", o qual os media ocidentais louvou como "pró reformista", era uma clara minora de menos de 30% mas veio de um grupo altamente privilegiado, eloquente e que em grande parte falava inglês, com um monopólio sobre os media ocidentais. A sua presença esmagadora nas reportagens ocidentais criou o que foi mencionado como o "Síndroma de Teerão Norte", o confortável enclave da classe alta do qual provieram muitos destes estudantes. Se bem que eles pudessem ser articulados, bem vestidos e fluentes em inglês, no segredo da urna eleitoral foram profundamente derrotados.

Na generalidade, Ahmadinejad saiu-se muito bem nas províncias produtoras de petróleo e petroquímica. Isto pode ter sido um reflexo da oposição dos trabalhadores do petróleo ao programa "reformista", o qual incluía propostas para "privatizar" empresas públicas. Da mesma forma, o presidente em exercício saiu-se muito bem junto às províncias fronteiriças devido à sua ênfase no fortalecimento da segurança nacional em relação às ameaças estado-unidenses e israelenses depois de uma escalada de ataques terroristas transfronteiriços patrocinados pelos EUA a partir do Paquistão e de incursões apoiadas por Israel a partir do Curdistão iraquiano, as quais mataram grande número de cidadãos iranianos. O patrocínio e o financiamento maciço dos grupos por trás destes ataques é uma política oficial dos EUA desde a administração Bush, a qual não foi repudiada pelo presidente Obama. De facto, ele escalou-a como preparação para as eleições.

O que os comentadores ocidentais e os seus protegidos iranianos ignoraram é o impacto poderoso que as devastadoras guerras dos EUA e a sua ocupação do Iraque e do Afeganistão têm sobre a opinião pública iraniana: a posição forte de Ahmadinejad em matéria de defesa contrastou com a postura pró ocidental e fraca de muitos dos propagandistas da campanha da oposição.

A grande maioria dos eleitores favoráveis ao presidente em exercício provavelmente sentiu que os interesses da segurança nacional, da integridade do pais e do sistema de previdência social, com todas as suas falhas, podiam ser melhor defendidos e melhorados com Ahmadinejad do que com os tecnocratas das classe alta apoiados pela juventude privilegiada orientada para o ocidente que aprecia mais os estilos de vida individualistas do que os valores da comunidade e solidariedade.

A demografia dos votos revela uma polarização de classe real contrapondo capitalistas individualistas de alto rendimento e orientados para o mercado livre à classe trabalhadora, de baixo rendimento, apoiantes de uma "economia moral" baseada na comunidade na qual a usura e a especulação são limitadas por preceitos religiosos. Os ataques abertos de economistas da oposição às despesas do governo com a previdência, com o crédito fácil e com os pesados subsídios a alimentos básicos não os favoreceram junto à maioria dos iranianos beneficiários daqueles programas. O Estado era encarado como o protector e benfeitor dos trabalhadores pobres contra o "mercado", o qual representava riqueza, poder, privilégio e corrupção. O ataque da oposição à "intransigência" da política externa do regime e a posições "isolando" o Ocidente só tinha eco junto a estudantes liberais da universidade e grupos de negócios do import-export. Para muitos iranianos, o fortalecimento militar do regime foi vista como tendo impedido um ataque dos EUA ou de Israel.

A escala do défice eleitoral da oposição deveria contar-nos quão fora de sintonia ela está em relação às preocupações vitais do seu próprio povo. Deveria recordar-nos que ao mover-se para mais perto da opinião ocidental, ela removeu-se dos interesses quotidianos da segurança, habitação, emprego e preços subsidiados dos alimentos que tornam a vida tolerável para aqueles que vivem abaixo da classe média e do lado de fora dos portões privilegiados da Universidade de Teerão.

O êxito eleitoral de Ahmadinejad, visto na perspectiva do contexto histórico, não deveria surpreender. Em competições eleitorais semelhantes entre nacionalistas-populistas contra liberais pró ocidentais, os populistas ganharam. Os exemplos passados incluem Perón na Argentina e, mais recentemente, Chávez da Venezuela, Evo Morales na Bolívia e mesmo Lula da Silva no Brasil, todos eles tendo demonstrado uma capacidade para assegurar margens próximas ou mesmo superiores a 60% em eleições livres. As maiorias votantes nestes países preferem a previdência social em relação a mercados sem restrições, a segurança nacional e não alinhamentos com impérios militares.

As consequências da vitória eleitoral de Ahmadinejad estão abertas a debate. Os EUA podem concluir que continuar a apoiar uma minoria barulhenta, mas pesadamente derrotada, tem poucas perspectivas de assegurar concessões sobre o enriquecimento nuclear e um abandono do apoio do Irão ao Hesbollah e ao Hamas. Uma abordagem realista seria abrir uma discussão ampla com o Irão e reconhecer, como o senador Kerry destacou recentemente, que o enriquecimento de urânio não é uma ameaça existencial para ninguém. Esta abordagem diferiria agudamente daquela dos sionistas americanos, incorporada no regime Obama, que segue a orientação de Israel de pressionar por uma guerra antecipativa com o Irão e que utiliza o argumento especiosos de que nenhuma negociação é possível com um governo "ilegítimo" em Teerão que "roubou uma eleição".

Acontecimentos recentes sugerem que líderes políticos na Europa, e mesmo alguns em Washington, não aceitam a linha dos mass media sionistas de "eleições roubadas". A Casa Branca não suspendeu a sua oferta de negociações com o governo recém-eleitos mas centrou-se ao invés na repressão dos protestatários da oposição (e não na contagem de votos). Da mesma forma, os 27 países da União Europeia exprimiram "séria preocupação acerca da violência" e apelaram a que "as aspirações do povo iraniano sejam alcançadas através de meios pacíficos e que a liberdade de expressão seja respeitada" ( Financial Times, 16/Junho/2009, p.4). Excepto quanto a Sarkozy da França, nenhum líder da UE questionou o resultado da votação.

A interrogação na sequência das eleições é a resposta israelense. Netanyahu assinalou aos seus seguidores sionistas americanos que eles deveriam utilizar o ardil da "fraude eleitoral" para exercer a máxima pressão sobre o regime Obama no sentido de acabar com todos os planos para encontrar-se com o novamente reeleito Ahmadinejad.

Paradoxalmente, comentaristas estado-unidenses (da esquerda, direita e centro) que "compraram" a mentira da fraude eleitoral estão de forma não intencional a proporcionar a Netanyahu e seus seguidores americanos argumentos e falsificações: Onde eles vêm guerras religiosas, nós vemos guerras de classe; onde eles vêem fraude eleitoral, nós vemos desestabilização imperial.

© Copyright James Petras, Global Research, 2009

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=14018

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

terça-feira, 16 de junho de 2009

Medvedev ignora polémica e quer cooperação com Ahmadinejad

Os presidentes da Rússia, Dmitri Medvedev, e do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, decidiram hoje na cidade russa de Yekaterinburg «continuar a cooperação em matéria económica e humanitária».

Segundo Natalia Timakova, porta-voz do presidente russo, citada pela agência oficial RIA Novosti, as partes concordaram também em «manter os contactos».

Anteriormente tinha sido comunicado que Medvedev tinha cancelado a reunião bilateral que realizaria com Ahmadinejad no âmbito da cimeira da Organização de Cooperação de Xangai (SCO).

Medvedev tem «uma agenda muito apertada» devido ao fórum daquela organização regional, que também inclui a China e quatro países da Ásia Central, e a primeira cimeira formal do grupo Bric, formado por Brasil, Rússia, Índia e China, explicou a delegação russa.

Ahmadinejad participa na cimeira da SCO na cidade russa de Yekaterinburg, nos Urais, na qualidade de observador, juntamente com os presidentes do Afeganistão e do Paquistão, o primeiro-ministro da Índia e um enviado da Mongólia.

O líder iraniano, que faz a gestão para a entrada formal do Irão na SCO, tinha previsto inicialmente chegar na segunda-feira a Yekaterinburg, mas adiou a visita «por razões pessoais», segundo fontes diplomáticas russas.

Desde a reeleição de Ahmadinejad, no sábado, Teerão é palco de violentos protestos da oposição para denunciar fraude eleitoral, nas quais pelo menos sete pessoas morreram.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) russo não fez declarações oficiais sobre as eleições no Irão e só o vice-ministro do MNE, Serguei Riabkov, afirmou hoje que as eleições são «um assunto interno do povo iraniano».

«Aprovamos a realização destas eleições e damos as boas-vindas ao reeleito presidente do Irão na terra russa», disse Riabkov durante numa conferência de imprensa em Yekaterinburg.

A visita de Ahmadinejad à cidade russa «reflecte as relações de boa vizinhança e tradicionalmente amistosas entre Moscovo e Teerão», afirmou o diplomata, segundo a agência RIA Novosti.

«É simbólico que a sua primeira visita ao exterior após ser reeleito seja à Rússia«, acrescentou. [fonte]

Ahmadinejad declarado vencedor das eleições presidenciais no Irão

O Presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad venceu as eleições presidenciais com 64 por cento dos votos, garantindo assim um segundo mandato, anunciou esta manhã a Comissão Eleitoral iraniana.

O seu principal opositor, Mir-Hossein Moussavi, conseguiu 32 por cento dos votos, numas eleições que registaram uma taxa de participação de 82 por cento.

Moussavi protestou contra o que diz serem violações óbvias nas eleições presidenciais de ontem. "Estou a avisar, não me vou render a esta farsa perigosa". A sua candidatura pediu já ao Conselho dos Guardiões que reveja os "erros" destas eleições.

O candidato derrotado diz que não houve boletins de voto em número suficiente em inúmeras assembleias de voto e que milhões de eleitores foram impedidos de votar.

"O resultado das acções de várias entidades oficiais põe em causa os fundamentos da República Islâmica e conduzirá a uma tirania", disse Moussavi.

A sede de campanha da candidatura de Moussavi foi encerrada pela polícia, impedindo os apoiantes do candidato de fazerem uma conferência de imprensa, relata a BBC.

Teerão, a capital, vive um dia de tensão. Centenas de apoiantes de Moussavi manifestaram-se nas ruas depois do anúncio dos primeiros resultados. "Vamos ficar aqui, vamos morrer aqui", gritavam, reunidos em frente à sede de campanha do seu candidato.

"Eles arruinaram o país e querem arruiná-lo ainda mais durante os próximos quatro anos", acrescentaram.

A polícia dispersou-os com bastões.

As manifestações continuaram durante a tarde, com apoiantes de Moussavi a incendiarem caixotes do lixo. Por outro lado, apoiantes de Ahmadinejad atacaram manifestantes pró-Moussavi nas ruas da capital, relata a AFP.

A partir de hoje, qualquer concentração de apoiantes dos quatro candidatos às eleições foi proibida pelo Governo.

Por sua vez, na grande avenida que atravessa a capital de Norte a Sul, os simpatizantes de Ahmadinejad exultavam. "Estou muito contente com a vitória do meu candidato. Ele ajuda os pobres e detém os criminosos", afirmou Kamra Mohammadi, um vendedor ambulante de 22 anos. [fonte]