domingo, 14 de fevereiro de 2010

A traição dos Nobel

Elie Wiesel baptizou modestamente a sua benévola fundação com o nome de Fundação Elie Wiesel para a Humanidade. Ao abrigo desta recolheu as assinaturas de 43 personalidades galardoadas com o prémio Nobel em apoio à resistência interna do Irão (New York Times, 7 de Fevereiro, 2010, p. 19). Embora Wiesel tenha sido galardoado com o Prémio Nobel da Paz (em 1986), o seu apelo pode ser considerado tudo, excepto um apelo para uma resolução pacífica e negociada da “questão iraniana” na Ásia ocidental.
Permitam-me recordar os laureados com o prémio Nobel que assinaram este apelo uma das principais razões para a recusa voluntária, de Jean-Paul Sartre, da aceitação do Prémio Nobel da Literatura em 1964: “Não será a mesma coisa se eu assinar Jean-Paul Sartre ou Jean-Paul Sartre, vencedor do Prémio Nobel. Um escritor deve recusar deixar-se transformar numa instituição, mesmo que esta lhe surja do modo mais honorífico.”
Para além do seu apoio aos seus dissidentes, há muito que Wiesel tem sido um falcão exacerbado no que diz respeito ao Irão, como o confirmou logo após a publicação do seu apelo. Numa quase adenda na forma de uma entrevista declarou que não derramaria uma lágrima “caso saiba que Ahmadinejad foi assassinado” e, referindo-se a este como sendo “uma ameaça patológica à paz mundial”, asseverou que o presidente do Irão “tenciona destruir Israel e causar uma catástrofe mundial”. Wiesel aproveitou também a ocasião para repudiar o Relatório Goldstone como constituindo “um crime contra o povo judeu, como um todo”.
No que diz respeito ao Irão, Wiesel encontra-se em completa harmonia com Shimon Peres, o presidente de Israel, de linha dura, que incongruentemente partilhou o Prémio Nobel da Paz com Yitzhak Rabin e com Yasser Arafat (em 1994).
Podemos apenas ansiar que o presidente Barack Obama, a mais recente personalidade galardoada com o Prémio Nobel da Paz, acabe por honrar o mérito da honra que lhe foi atribuída prematuramente (que, no espírito de Sartre, podia pelo menos ter considerado recusar). O presidente imperial da América devia ajudar na reabilitação das intenções e do espírito do desejo de Alfred Nobel em premiar anualmente “a personalidade que mais tenha contribuído ou mais tenha trabalhado em benefício da fraternidade entre as nações, a abolição ou a redução dos exércitos existentes e pela promoção e participação em congressos nos quais se discuta a paz.”

12 de Fevereiro, 2010, Counterpunch
Arno J. Meyer

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Os reaccionários coloridos

Rinascita – Professor Mutti, tem-se interessado pelo desenvolvimento da Revolução islâmica no Irão desde que, há trinta anos, publicou alguns escritos do Imã Khomeini nas Edizioni all’insegna del Veltro. Actualmente acompanha o desenrolar da política iraniana por intermédio do observatório da revista de estudos geopolíticos “Eurásia”, da qual é redactor. Que lugar ocupa o Irão actualmente no contexto geopolítico?

C. Mutti – Embora se encontre rodeado por potências hostis (os regimes wahabitas e filoamericanos da península arábica) e por países submetidos à ocupação militar ocidental (Iraque, Afeganistão e Paquistão), a República Islâmica do Irão tem vindo a aumentar o seu peso geopolítico, de modo que exerce actualmente uma influência regional que se estende do Tajiquistão até aos movimentos de libertação do Líbano e da Palestina, e entre os países seus amigos encontramos a Turquia e a Síria. Por fim, é fundamental o facto do Irão ocupar uma posição geográfica de enorme valor para a segurança da Rússia e dispor de um património petrolífero de vital importância para o crescimento económico da China. Deste modo, a República Islâmica do Irão pode contar com a solidariedade das duas maiores potências do continente eurásico.

Rinascita – Quem são, na realidade, os manifestantes que a imprensa ocidental designa de “estudantes”, “reformistas”, “ala verde”, “revolucionários” e assim sucessivamente?

C. Mutti – Mais do que de revolucionários tratam-se, na verdade, de autênticos reaccionários, tal como o demonstram dar azo a equívocos as suas próprias palavras de ordem, das mais explicitas entre estas a – “Morte à vilayat-e faqih” – que deseja o fim da governação islâmica. Além disso, são muito dignos de nota as palavras referentes ao seu posicionamento internacional: “Nem Gaza nem Líbano, só me sacrifico pelo Irão!” e “Morte à Rússia e à China!”. Por último, é interessante que os manifestantes tenham ressuscitado o termo “República iraniana”, que era o do usurpador Xá Reza. As reivindicações expressas por estas frases não são pertença de uma mera franja extremista do movimento reaccionário, são também as palavras dos seus líderes. Tanto o são que Mir Hussein Mussavi (o candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais) se tem negado a desautorizá-las.

Por outro lado, sabemos que a oposição é uma coligação multicolor que reagrupa indivíduos de várias orientações políticas: reaccionários nostálgicos da dinastia Pahlevi, resíduos dos grupúsculos marxistas que o Imã Khomeini chamava, depreciativamente, de “comunistas Made in USA”, e terroristas democráticos da organização dos Mujahedin do Povo [Muyahidin-e khalq].

Rinascita – Contudo, se não me falha a memória as Edizioni all’insegna del Veltro publicaram uma compilação de documentos dos Mujahedin do Povo…

C. Mutti – Aquele livro (Documenti della guerra sacra) foi publicado em 1979, ou seja, numa altura em que os Mujahedin do Povo lutavam contra o regime colaboracionista do Xá ao lado de outros elementos políticos do povo iraniano. Só posteriormente é que os militantes da dita organização apontaram as suas armas contra os seus compatriotas, responsabilizando-se por sanguinários atentados levados a cabo por células no estrangeiro e merecendo o ignominioso epíteto de munafiqin (“hipócritas”).

Rinascita – Quais são as estruturas estrangeiras que inspiram as acções dos actuais opositores ao governo islâmico?

C. Mutti – Já em Junho de 2009, no discurso pronunciado na ocasião da Oração da Sexta-Feira, o Aiatola Khamenei estabeleceu uma clara relação entre os acontecimentos pós eleitorais no Irão e a chamada “revolução das rosas” orquestrada por Soros na Geórgia. A acusação do Aiatola Khamenei foi confirmada por uma notícia publicado a edição do “Stampa” de 28 de Junho de 2009, num artigo de Maurizio Molinari: O Departamento de Estado estadunidense colocou à disposição dos activistas “reformistas” fundos federais no valor de 20 milhões de dólares. Em 2006 Condoleeza Rice já tinha disponibilizado 66 milhões de dólares para os “dissidentes” iranianos. Já para não falar do dinheiro provavelmente oferecido pelas células estruturas subversivas que intervêm pontualmente no apoio às ditas “revoluções coloridas”: o Center for International Private Enterprise, o National Democratic Institute for International Affais, o International Republican Institute, etc.

Rinascita – Na sua opinião, Khamenei tem os dias contados? O presidente Ahmadinejad cairá?

C. Mutti – Para nos apercebermos do enorme consenso de que goza o Aiatola Khamenei, basta dar uma vista de olhos aos vídeos das manifestações populares organizadas em seu apoio (um desses vídeos encontra-se também no portal da Coordenadora do Projecto Eurásia www.cpeurasia.org). Compare-se os milhões de pessoas que se manifestaram em seu nome com os parcos milhares de hooligans “direito-humanistas” recrutados na sua esmagadora maioria nos bairros do norte de Teerão.

Quanto ao presidente Ahmadinejad, a solidez da sua posição está confirmada pelo consenso eleitoral recentemente decretado em seu favor pelo povo iraniano.

(Entrevista de Davide D’Amario efectuada a Claudio Mutti, “Rinascita”, 15 de Janeiro de 2010)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Nuclear: Israel fala na possibilidade de usar a força contra o Irão

Lusa - O ministro dos Assuntos Estratégicos israelita, Moshe Yaalon, evocou hoje a possibilidade de usar a força para impedir que o Irão obtenha armas nucleares.

"O plano do Irão vai ser provavelmente interrompido por uma mudança de regime ou, se não houver nenhuma outra escolha, pela utilização de força", disse o governante, numa conferência dedicada aos problemas de segurança, em Herzliyya (Norte de Telavive).

"É importante continuar a deixar claro ao regime extremista iraniano que todas as opções continuam na mesa e que ignorar as exigências da comunidade internacional terminará provavelmente com lágrimas amargas para o Irão", acrescentou.