sábado, 17 de abril de 2010

Embaixador para a Santa Sé em entrevista

Entrevista a sua Excelência, embaixador da República Islâmica no Irão na Santa Sé, Ali Akbar Nasseri (na foto com sua eminência, o Papa Bento XVI, no passado dia 11 de Abril). Levada a cabo pelos nossos correspondentes Tiberio Graziani e Antonio Grego no passado dia 12 de Abril, em Roma.

Há alguns dias Teerão anunciou que organizará nos dias 17 e 18 de Abril uma conferência sobre o desarmamento nuclear no qual participarão delegados de muitos países. A conferência terá como temática “a energia nuclear para todos, armas nucleares para ninguém”. Pode explicar-nos quais os motivos que levaram o Irão a organizar esta conferência?

Ali Akbar Nasseri – Em nome de Deus, o benevolente, o misericordioso, agradeço-vos a vossa presença e saúdo de igual modo o vosso ponto de vista, inspirado no direito e na razão. Quanto à vossa pergunta: a acumulação de armas nucleares é contrária à paz mundial e é motivo de preocupação por parte da comunidade internacional. Fora toda a propaganda e palavras de ordem realizadas, até agora não se levou a cabo nada em concreto para acabar com as armas nucleares. A República Islâmica do Irão, com a finalidade de ultrapassar os actuais desafios mundiais no que a isto diz respeito e a de apresentar soluções para termos um mundo sem armas nucleares e de destruição em massa, organiza esta conferência na qual participarão autoridades de mais de 60 nações. Com a conferência de Teerão sobre o desarmamento, é nossa intenção promover o princípio pelo qual “a energia nuclear pacífica esteja à disposição de todos os povos enquanto que as armas nucleares não estejam à disposição de ninguém.”

A China anunciou que irá participar na conferência de Teerão sobre a questão nuclear e continua a afirmar-se como sendo contra novas sanções ao Irão. Os Estados Unidos e Israel, contudo, estão a fazer tudo o que podem para que a China desista da sua decisão de apoiar a causa nuclear iraniana. Só a importância estratégia que o Irão constitui para a China, sobretudo com base no aprovisionamento de recursos energéticos, terá servido até agora como protecção contra esses pedidos. Contudo, até que ponto são sólidos os vínculos entre a China e o Irão nesta altura? Conseguirá o Ocidente afastar a China para o seu lado ou terá que renunciar a essa estratégia?

Ali Akbar Nasseri – A actividade nuclear iraniana é uma actividade completamente pacífica. O Irão é membro da AIEA e signatário do Tratado de Não proliferação Nuclear. Toda a actividade referente à questão nuclear está, portanto, sob supervisão dos inspectores da dita agência. Aplicar sanções ao Irão não tem qualquer fundamento jurídico nem legal e é, principalmente, contrário aos protocolos do Tratado. Os Estados Unidos e Israel, que possuem ogivas nucleares e nos ameaçam com ataques militares, persistem numa política que não vai dar a lado nenhum. No que diz respeito à China, recordo-vos que Teerão e Pequim têm consolidado relações de amizade que remontam já ao passado. A posição independente da China em defesa da actividade nuclear pacífica por parte do Irão é digna de admiração. Esperamos que a China e a Rússia não se deixem influenciar pelas pressões políticas dos Estados Unidos e conservem, assim, a sua posição independente nesta questão.

Além da China, também outros países têm exprimido a sua proximidade e a sua amizade para com o Irão, entre eles, a Rússia, a Turquia, o Brasil e a Venezuela. Embaixador, julga que será possível, juntamente com estes países, criar uma frente compacta de oposição e reacção ao modelo de fragmentação e de agressão levado a cabo contra o continente eurásico e a América indolatina por parte dos Estados Unidos e de Israel?

Ali Akbar Nasseri – Por sorte a era do domínio do poder colonialista das potências coloniais acabou. Os países livres colaboram com base nos seus interesses bilaterais. Com união e com uma maior colaboração a ordem colonialista dos Estados Unidos não alcançará os seus objectivos. Vemos com bons olhos esta frente de oposição que conseguia obter resultados concretos para a paz mundial, seja na América Latina, em África, na Ásia e também em certos países europeus. Os países que mencionaram estão a tentar construir uma política justa nessa via. Os Estados Unidos da América, com um arsenal repleto de armas nucleares e de armas de destruição em massa e com um passado negro no que diz respeito à utilização de armas nucleares, têm ameaçado mais recentemente até com um ataque nuclear. Os Estados Unidos, que apoiam o regime ilegítimo de Israel – dotado de armas nucleares – não têm qualquer autoridade para emitir juízos de valor acerca da actividade nuclear civil do Irão. É nosso desejo que a mesma Agência para a Energia Nuclear e Atómica não ceda às pressões dessas potências e que, com base nos seus regulamentos e nos da ordem jurídica, controle as actividades nucleares pacíficas de todos os países e, assim sendo, acabe com a produção de armas nucleares e de destruição em massa. É nosso desejo que a AIEA desempenhe a sua função nesse sentido.

Precisamente nos últimos dias, Obama, tendo em vista a cimeira de Washington sobre a segurança nuclear, anunciou uma radical mudança de estratégia sobre a utilização de armas nucleares. Os Estados Unidos anunciam que querem utilizar as armas nucleares só em casos extremos e nunca contra Estados que respeitem o Tratado de Não Proliferação Nuclear. Contudo, Obama acrescentou que estas novas regras não se aplicam nem à Coreia do Norte nem ao Irão que, consequentemente, continuam sob a ameaça de um ataque, também com bombas nucleares. Como sabemos, não obstante, o Irão é um dos signatários do Tratado e até agora respeitou todos os vínculos deste e aceitou as inspecções da AIEA, ao contrário de Israel que não é signatária do Tratado e que possui centenas de ogivas atómicas que ameaça utilizar contra os seus vizinhos. Que resposta pretende o Irão dar a esta enésima movimentação propagandística de Obama?

Ali Akbar Nasseri – É necessário admirarmo-nos por o Irão estar sob ameaça de um ataque nuclear por parte dos Estados Unidos graças à sua nuclearização estritamente civil como, por outro lado, foi também confirmado em várias ocasiões pelas inspecções da AIEA. Os EUA têm uma atitude ambígua, de facto, ameaçam o Irão pela sua nuclearização pacífica, ao mesmo tempo que apoiam o regime sionista de Israel – que não assinou o Tratado sobre a proliferação nuclear e que possui ogivas nucleares – económica, política e militarmente. Neste âmbito, o Irão não precisa de fazer qualquer propaganda em seu favor nesta questão. A Comunidade Internacional, que está consciente de tudo isto, e os analistas dos órgãos de comunicação independentes e livres julgarão esta questão e desta tirarão as suas conclusões sobre a posição dos Estados Unidos. De qualquer modo, o Irão seguirá o seu caminho até obter o seu direito à energia nuclear pacífica. O Irão considera que a energia nuclear pacífica e a tecnologia nuclear são um direito de todos os países e de todos os povos do mundo. As sanções e as ameaças não incidirão, em absoluto, sobre a nossa vontade fundamentada nos direitos do Irão. Não incidirão, em absoluto, sobre a autoridade do povo do Irão.

Falou-nos da Comunidade Internacional, que poderia fazer a União Europeia para facilitar as relações entre o Irão e os Estados Unidos, considerando que a União Europeia é uma parte substancialmente constitutiva da frente Ocidental?

Ali Akbar Nasseri – No que diz respeito a melhorar as relações entre os Estados Unidos e o Irão, considero não haver necessidade de mediadores. Se os Estados Unidos reduzirem a sua posição colonialista e deixarem de lado as suas posições hostis para com outros povos e também para com o Irão, se optarem pela via do respeito recíproco entre os países, as relações com os diversos países tornam-se automaticamente boas. Se os Estados Unidos estenderem a mão de modo sincero, os problemas resolver-se-ão; mas como diz o Guia Supremo: “Obama estende-nos a mão com uma luva de veludo que pode bem ocultar um punho de ferro”. Por causa das acções hostis e das contínuas ameaças por parte dos Estados Unidos, em particular no último discurso de Obama acerca da ameaça de um ataque nuclear, temos a certeza de que os Estados Unidos não estão interessados em boas relações. Mesmo assim, esperamos que a União Europeia – como potente pólo económico – adopte uma posição independente nas diferentes questões de interesse internacional e que não siga as políticas dos Estados Unidos.

A Santa Sé pode facilitar, como autoridade moral e religiosa, as relações entre o Irão e a União Europeia e entre o Irão e os Estados Unidos?

Ali Akbar Nasseri – Da Santa Sé, pela sua missão religiosa e enquanto portadora da mensagem de Jesus Cristo, esperamos muito mais do que conselhos morais e religiosos. Gostaríamos que esta assuma uma posição firme, determinada e emblemática ante as ameaças das potências agressivas que promovem a guerra. Com tais posições contra os vexames a que são sujeitos os povos por parte das potências colonialistas, a Santa Sé pode facilitar essas relações. A Santa Sé poderia pressionar as potências ocidentais a reverem a sua posição no que diz respeito à política internacional.

sábado, 3 de abril de 2010

Entrevista a Rasool Mohajer, Embaixador do Irão em Lisboa

Embaixador do Irão em Lisboa acusa os Estados Unidos de serem comandados a partir de Israel.

O Irão diz que é transparente na política de energia nuclear e que a Agência Internacional de Energia Atómica viu tudo o que quis ver. Por outro lado, o Embaixador Rasool Mohajer sublinha que o Irão não vai alterar a política que tem seguido e lembra que a "gritaria" de alguns países que pedem mais sanções enfrenta o apoio, por exemplo, de Rússia e China, países que "entendem o Irão".

Rasool Mohajer diz ainda que o Irão é um país independente, que não espera uma guerra mas que no passado já deu boas lições aos invasores. Quanto a Israel, Rasool Mohajer diz que influencia de forma decisiva a política dos Estados Unidos na região. Entre a política seguida por Obama e George W Bush, o Embaixador do Irão ainda não vê qualquer diferença. Entrevista do jornalista José Manuel Rosendo.