quinta-feira, 15 de julho de 2010

O despudor e o topete israelitas

Encontra-se entre nós o ministro dos Negócios Estrangeiros da República Islâmica do Irão, Dr. Manoutchehr Mottaki (que hoje recebeu de manhã jornalistas portugueses para uma franca, aberta e participada conferência) que, como é óbvio e evidente, pelas mais simples regras de cortesia, protocolo e reciprocidade existentes entre países com relações diplomáticas (como é o caso), foi ontem recebido pelo seu congénere português no Palácio das Necessidades. Acto, pois, absolutamente normal e compreensível.

Não compreensível a reacção despudorada do embaixador sionista em Lisboa que se atreveu a classificar o acto como "surpreendente", lançando duras críticas às autoridades portuguesas por terem recebido o chefe da diplomacia iraniana (ainda a entidade sionista não existia já nós mantinhamos relações diplomáticas com o Irão).

Surprendente, de facto, o topete do representante daquela potência nuclear regional - frequentemente desestabilizadora da região - que pretende impôr a sua agenda aos demais Estados soberanos.

Surpreendente como um Estado, que reiteradamente e tantas vezes violou determinações das Nações Unidas, se arvora em ofendido quando outros não se vergam à sua vontade.

Surprendente vindo de um estado agressor o que, até ver, nunca foi o caso do Irão...

Cada um que tire as suas conclusões.

14 de Julho, 2010, Reverentia.
Humberto Nuno de Oliveira

O Irão e a energia nuclear

Com cerca de 72 milhões de habitantes, a República Islâmica do Irão, na direcção da sua construção e esplendor, realizou grandes esforços e teve um grande de- senvolvimento na área da energia nuclear pacífica. No quadro das quatro décadas de presença do Irão na Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) e de acordo com o Tratado de Não-Proliferação das Armas Nucleares (TNP), todos os progressos científicos são apenas para fins pacíficos e económicos.

No entanto, no seguimento das suas actividades, no passado com a provocação de Saddam Hussein para impor uma guerra destrutiva de oito anos contra o Irão e agora com as sanções económicas e as pressões políticas com diversos pretextos, os Estados Unidos da América têm liderado um movimento que molda a opinião pública a propósito das actividades nucleares do Irão, que dizem ter como objectivo o acesso às armas nucleares.

Apesar da insistência de mais de 20 relatórios da AIEA sobre a ausência de provas de desvio das actividades nucleares do Irão para fins militares, e da ausência de qualquer prova para tal acusação rancorosa dos EUA, a pergunta principal é saber porque é que o governo dos EUA, intencionalmente, mistura os seus objectivos políticos com tal inimizade rancorosa contra o Irão.

A seriedade do Irão relativamente aos seus compromissos e leis internacionais, incluindo o TNP, é exemplar. O Irão nunca falhou compromissos e as suas actividades nucleares tiveram sempre vigilância da AIEA, que fez mais de 30 inspecções sem pré-avisos às instalações nucleares iranianas. Comparativamente com outros membros da AIEA, foi no Irão que a agência realizou o maior número de inspecções: 4500 pessoas/dia. No quadro dos seus compromissos na organização, o Irão aceitou a observação da agência para as suas actividades. Actualmente, as câmaras da agência estão constantemente a obter imagens das actividades nucleares. Nas instalações nucleares do Irão, todas as entradas e saídas de produtos nucleares são medidas por inspectores.

Em contrapartida, já passaram quatro décadas desde a aprovação do TNP e o mundo continua à espera da aplicação do sexto artigo do tratado sobre o desarmamento dos países possuidores de armas nucleares. Infelizmente, tal não aconteceu. Pelo contrário, os possuidores destas armas de-sumanas defendem, sempre, a sua manutenção como parte da sua defesa. Alguns até ameaçam outros países com essas armas. O incumprimento do tratado não se limita a este ponto, mas serviu, também, para ajudar a equipar o regime sionista com essas armas destruidoras. De modo que o regime sionista, com o sentimento do apoio dos Estados Unidos, recusou ser membro da AIEA e não assinou o TNP.

Actualmente, esse regime tem na sua posse 200 ogivas nucleares. É por isso que Israel está no sexto lugar entre os países do mundo com arsenais nucleares. São, de facto, os mesmos países que não permitiram a aprovação de qualquer resolução por parte das Nações Unidas sobre os perigos das armas de destruição em massa de Israel.

As Nações Unidas foram criadas para a promoção da paz no mundo. Infelizmente, a organização transformou-se num clube exclusivo dos países com direito de veto. Durante quatro décadas, os detentores de armas nucleares não cumpriram as promessas para as destruir. Hoje todos os países assistem ao aumento do equipamento e ao armamento do regime sionista.

Isto acontece numa altura em que, apesar da cooperação extraordinária do Irão com a AIEA e da falta de provas do desvio das actividades nucleares do Irão, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou quatro resoluções contra o Irão sem qualquer fundamento legal.

Repetidamente, o Irão declarou que procura ter acesso aos inúmeros benefícios da energia nuclear pacífica em diversas áreas, como a radioterapia, a energia, a indústria e a agricultura. De acordo com a presença na AIEA e no TNP, o Irão acredita ter o direito de acesso aos recursos necessários para utilização dessa ciência desenvolvida para os seus objectivos pacíficos. Do mesmo modo que o povo e o governo do Irão respeitam os compromissos com o TNP, também não podem permitir qualquer país prive o Irão do seu direito fundamental e elementar que é o acesso à energia nuclear. Como num futuro próximo, todas as energias fósseis vão ser esgotadas, o desenvolvimento e o progresso do país depende dessas fontes de energia: a energia nuclear é economicamente mais sustentável e limpa para o ambiente.

O Irão é contra a posse de armas nucleares que considera desumanas e "haram" [proibida pelo islão]. O Irão acredita ainda que, para eliminar as ameaças mundiais, todas as armas nucleares devem ser destruídas o mais rapidamente possível. Por isso, na conferência sobre a revisão do TNP, o presidente da República do Irão apresentou propostas para livrar o mundo de armas nucleares. De acordo com essas propostas, o mundo, e especialmente o Médio Oriente, deve ficar livre de arsenais nucleares e todos os países devem tomar iniciativas para o desarmamento do regime sionista, a maior ameaça à paz na região.

Desde 1974 que o Irão é pioneiro na aplicação deste slogan e faz dele uma política primordial. A realização da Conferência de Teerão, no mês de Abril, sobre desarmamento nuclear com o lema "Energia nuclear para todos, armas nucleares para ninguém", mostrou a posição da República Islâmica do Irão e de uma grande parte dos países do mundo sobre as armas nucleares.

Felizmente, no palco internacional, estamos a assistir a evoluções muito importantes na recusa do unilateralismo, das políticas discriminatórias, da utilização das políticas ambíguas e da instrumentalização das organizações internacionais para objectivos e fins políticos. A oposição de três países (Brasil, Turquia e Líbano) à Resolução 1929 contra o Irão, no Conselho de Segurança, anuncia o início das novas relações no palco internacional.

Lula da Silva, o presidente do Brasil, mostrou o seu desgosto com a decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O presidente Lula afirmou que a aprovação traduz o comportamento "contraditório" do conselho perante o Irão. É interessante sublinhar que a aprovação da Resolução se realizou numa altura em que - no seguimento do pedido escrito de Barack Obama - os dois países, Brasil e Turquia, tinham tomado a iniciativa de assinar a Declaração de Teerão, criando um clima de confiança que eliminasse as preocupações que os EUA queriam lançar sobre o programa nuclear do Irão.

A actuação de países independentes e eficazes, como a Turquia e o Brasil, mostra uma nova postura nos diversos palcos internacionais, onde todas as nações participam com justiça e respeito perante os direitos de todos os países independentes. Essa nova actuação está a substituir o procedimento injusto e discriminatório actual e recusa as posições ambíguas.

A afirmação e a aprovação da declaração final da Conferência de Revisão do TNP pela comunidade internacional, em Nova Iorque, reforçou a necessidade de adesão do regime sionista ao tratado, bem como a aceitação das inspecções da AIEA sobre as suas actividades atómicas. Foi também mais um grande sinal para os EUA, que apoiam incondicionalmente o regime sionista com uma dupla política. Os EUA devem aprender a respeitar a vontade dos povos e deixar o mundo seguir o seu caminho na direcção de paz.

Portugal tem um clima suave e um povo tolerante, que há muitos séculos tem relações com os iranianos, e que conhece muito bem objectivos pacíficos e totalmente tolerantes. Espero que a minha visita a Portugal, um país tão lindo, seja mais um passo no desenvolvimento e na diversificação das nossas relações, a todos os níveis, e no entendimento crescente entre os nossos povos e governos.

14 de Julho, 2010, i Online.
Manoucher Mottaki

sábado, 17 de abril de 2010

Embaixador para a Santa Sé em entrevista

Entrevista a sua Excelência, embaixador da República Islâmica no Irão na Santa Sé, Ali Akbar Nasseri (na foto com sua eminência, o Papa Bento XVI, no passado dia 11 de Abril). Levada a cabo pelos nossos correspondentes Tiberio Graziani e Antonio Grego no passado dia 12 de Abril, em Roma.

Há alguns dias Teerão anunciou que organizará nos dias 17 e 18 de Abril uma conferência sobre o desarmamento nuclear no qual participarão delegados de muitos países. A conferência terá como temática “a energia nuclear para todos, armas nucleares para ninguém”. Pode explicar-nos quais os motivos que levaram o Irão a organizar esta conferência?

Ali Akbar Nasseri – Em nome de Deus, o benevolente, o misericordioso, agradeço-vos a vossa presença e saúdo de igual modo o vosso ponto de vista, inspirado no direito e na razão. Quanto à vossa pergunta: a acumulação de armas nucleares é contrária à paz mundial e é motivo de preocupação por parte da comunidade internacional. Fora toda a propaganda e palavras de ordem realizadas, até agora não se levou a cabo nada em concreto para acabar com as armas nucleares. A República Islâmica do Irão, com a finalidade de ultrapassar os actuais desafios mundiais no que a isto diz respeito e a de apresentar soluções para termos um mundo sem armas nucleares e de destruição em massa, organiza esta conferência na qual participarão autoridades de mais de 60 nações. Com a conferência de Teerão sobre o desarmamento, é nossa intenção promover o princípio pelo qual “a energia nuclear pacífica esteja à disposição de todos os povos enquanto que as armas nucleares não estejam à disposição de ninguém.”

A China anunciou que irá participar na conferência de Teerão sobre a questão nuclear e continua a afirmar-se como sendo contra novas sanções ao Irão. Os Estados Unidos e Israel, contudo, estão a fazer tudo o que podem para que a China desista da sua decisão de apoiar a causa nuclear iraniana. Só a importância estratégia que o Irão constitui para a China, sobretudo com base no aprovisionamento de recursos energéticos, terá servido até agora como protecção contra esses pedidos. Contudo, até que ponto são sólidos os vínculos entre a China e o Irão nesta altura? Conseguirá o Ocidente afastar a China para o seu lado ou terá que renunciar a essa estratégia?

Ali Akbar Nasseri – A actividade nuclear iraniana é uma actividade completamente pacífica. O Irão é membro da AIEA e signatário do Tratado de Não proliferação Nuclear. Toda a actividade referente à questão nuclear está, portanto, sob supervisão dos inspectores da dita agência. Aplicar sanções ao Irão não tem qualquer fundamento jurídico nem legal e é, principalmente, contrário aos protocolos do Tratado. Os Estados Unidos e Israel, que possuem ogivas nucleares e nos ameaçam com ataques militares, persistem numa política que não vai dar a lado nenhum. No que diz respeito à China, recordo-vos que Teerão e Pequim têm consolidado relações de amizade que remontam já ao passado. A posição independente da China em defesa da actividade nuclear pacífica por parte do Irão é digna de admiração. Esperamos que a China e a Rússia não se deixem influenciar pelas pressões políticas dos Estados Unidos e conservem, assim, a sua posição independente nesta questão.

Além da China, também outros países têm exprimido a sua proximidade e a sua amizade para com o Irão, entre eles, a Rússia, a Turquia, o Brasil e a Venezuela. Embaixador, julga que será possível, juntamente com estes países, criar uma frente compacta de oposição e reacção ao modelo de fragmentação e de agressão levado a cabo contra o continente eurásico e a América indolatina por parte dos Estados Unidos e de Israel?

Ali Akbar Nasseri – Por sorte a era do domínio do poder colonialista das potências coloniais acabou. Os países livres colaboram com base nos seus interesses bilaterais. Com união e com uma maior colaboração a ordem colonialista dos Estados Unidos não alcançará os seus objectivos. Vemos com bons olhos esta frente de oposição que conseguia obter resultados concretos para a paz mundial, seja na América Latina, em África, na Ásia e também em certos países europeus. Os países que mencionaram estão a tentar construir uma política justa nessa via. Os Estados Unidos da América, com um arsenal repleto de armas nucleares e de armas de destruição em massa e com um passado negro no que diz respeito à utilização de armas nucleares, têm ameaçado mais recentemente até com um ataque nuclear. Os Estados Unidos, que apoiam o regime ilegítimo de Israel – dotado de armas nucleares – não têm qualquer autoridade para emitir juízos de valor acerca da actividade nuclear civil do Irão. É nosso desejo que a mesma Agência para a Energia Nuclear e Atómica não ceda às pressões dessas potências e que, com base nos seus regulamentos e nos da ordem jurídica, controle as actividades nucleares pacíficas de todos os países e, assim sendo, acabe com a produção de armas nucleares e de destruição em massa. É nosso desejo que a AIEA desempenhe a sua função nesse sentido.

Precisamente nos últimos dias, Obama, tendo em vista a cimeira de Washington sobre a segurança nuclear, anunciou uma radical mudança de estratégia sobre a utilização de armas nucleares. Os Estados Unidos anunciam que querem utilizar as armas nucleares só em casos extremos e nunca contra Estados que respeitem o Tratado de Não Proliferação Nuclear. Contudo, Obama acrescentou que estas novas regras não se aplicam nem à Coreia do Norte nem ao Irão que, consequentemente, continuam sob a ameaça de um ataque, também com bombas nucleares. Como sabemos, não obstante, o Irão é um dos signatários do Tratado e até agora respeitou todos os vínculos deste e aceitou as inspecções da AIEA, ao contrário de Israel que não é signatária do Tratado e que possui centenas de ogivas atómicas que ameaça utilizar contra os seus vizinhos. Que resposta pretende o Irão dar a esta enésima movimentação propagandística de Obama?

Ali Akbar Nasseri – É necessário admirarmo-nos por o Irão estar sob ameaça de um ataque nuclear por parte dos Estados Unidos graças à sua nuclearização estritamente civil como, por outro lado, foi também confirmado em várias ocasiões pelas inspecções da AIEA. Os EUA têm uma atitude ambígua, de facto, ameaçam o Irão pela sua nuclearização pacífica, ao mesmo tempo que apoiam o regime sionista de Israel – que não assinou o Tratado sobre a proliferação nuclear e que possui ogivas nucleares – económica, política e militarmente. Neste âmbito, o Irão não precisa de fazer qualquer propaganda em seu favor nesta questão. A Comunidade Internacional, que está consciente de tudo isto, e os analistas dos órgãos de comunicação independentes e livres julgarão esta questão e desta tirarão as suas conclusões sobre a posição dos Estados Unidos. De qualquer modo, o Irão seguirá o seu caminho até obter o seu direito à energia nuclear pacífica. O Irão considera que a energia nuclear pacífica e a tecnologia nuclear são um direito de todos os países e de todos os povos do mundo. As sanções e as ameaças não incidirão, em absoluto, sobre a nossa vontade fundamentada nos direitos do Irão. Não incidirão, em absoluto, sobre a autoridade do povo do Irão.

Falou-nos da Comunidade Internacional, que poderia fazer a União Europeia para facilitar as relações entre o Irão e os Estados Unidos, considerando que a União Europeia é uma parte substancialmente constitutiva da frente Ocidental?

Ali Akbar Nasseri – No que diz respeito a melhorar as relações entre os Estados Unidos e o Irão, considero não haver necessidade de mediadores. Se os Estados Unidos reduzirem a sua posição colonialista e deixarem de lado as suas posições hostis para com outros povos e também para com o Irão, se optarem pela via do respeito recíproco entre os países, as relações com os diversos países tornam-se automaticamente boas. Se os Estados Unidos estenderem a mão de modo sincero, os problemas resolver-se-ão; mas como diz o Guia Supremo: “Obama estende-nos a mão com uma luva de veludo que pode bem ocultar um punho de ferro”. Por causa das acções hostis e das contínuas ameaças por parte dos Estados Unidos, em particular no último discurso de Obama acerca da ameaça de um ataque nuclear, temos a certeza de que os Estados Unidos não estão interessados em boas relações. Mesmo assim, esperamos que a União Europeia – como potente pólo económico – adopte uma posição independente nas diferentes questões de interesse internacional e que não siga as políticas dos Estados Unidos.

A Santa Sé pode facilitar, como autoridade moral e religiosa, as relações entre o Irão e a União Europeia e entre o Irão e os Estados Unidos?

Ali Akbar Nasseri – Da Santa Sé, pela sua missão religiosa e enquanto portadora da mensagem de Jesus Cristo, esperamos muito mais do que conselhos morais e religiosos. Gostaríamos que esta assuma uma posição firme, determinada e emblemática ante as ameaças das potências agressivas que promovem a guerra. Com tais posições contra os vexames a que são sujeitos os povos por parte das potências colonialistas, a Santa Sé pode facilitar essas relações. A Santa Sé poderia pressionar as potências ocidentais a reverem a sua posição no que diz respeito à política internacional.

sábado, 3 de abril de 2010

Entrevista a Rasool Mohajer, Embaixador do Irão em Lisboa

Embaixador do Irão em Lisboa acusa os Estados Unidos de serem comandados a partir de Israel.

O Irão diz que é transparente na política de energia nuclear e que a Agência Internacional de Energia Atómica viu tudo o que quis ver. Por outro lado, o Embaixador Rasool Mohajer sublinha que o Irão não vai alterar a política que tem seguido e lembra que a "gritaria" de alguns países que pedem mais sanções enfrenta o apoio, por exemplo, de Rússia e China, países que "entendem o Irão".

Rasool Mohajer diz ainda que o Irão é um país independente, que não espera uma guerra mas que no passado já deu boas lições aos invasores. Quanto a Israel, Rasool Mohajer diz que influencia de forma decisiva a política dos Estados Unidos na região. Entre a política seguida por Obama e George W Bush, o Embaixador do Irão ainda não vê qualquer diferença. Entrevista do jornalista José Manuel Rosendo.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Ahmadinejad qualifica de "grande mentira" atentados de 11 de Setembro

Teerão - O Presidente do Irão, Mahmud Ahmadinejad, afirmou que a versão oficial dos atentados de 11 de Setembro é uma "grande mentira" utilizada pelos Estados Unidos para justificar a invasão do Afeganistão.

"O 11 de setembro foi uma grande mentira e um pretexto para a guerra contra o terrorismo e para a invasão do Afeganistão", disse Ahmadinejad numa reunião com funcionários do Ministério das Informações, citado pelos media iranianos.

"Os atentados de 11 de Setembro fazem parte de uma complexa estratégia dos serviços secretos", disse também.

O presidente iraniano já tinha questionado a versão norte-americana dos atentados de 2001, que responsabiliza a Al-Qaida, mas esta foi a primeira vez que lhe chamou uma "grande mentira".

Angola Press, 7 de Março de 2010.

Lula diz não ser prudente "encostar o Irão a parede"

Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou quarta-feira, que não é prudente "encostar o Irão a parede", mas sim, investir no diálogo para resolver o impasse sobre o programa nuclear da República Islâmica.

As declarações foram feitas pouco antes do encontro de Lula com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, que busca o apoio do Brasil, que ocupa uma cadeira rotativa no Conselho de Segurança da ONU, para impor novas sanções ao Irão pelo seu programa nuclear.

"Não é prudente encostar o Irão a parede, o que é prudente é estabelecer negociações", afirmou Lula a jornalistas.

O presidente voltou a defender o uso de energia nuclear para fins pacíficos. "Se o Irão tiver concordância com isso, o Irão terá o apoio do Brasil", afirmou Lula.

Sobre um possível pedido de apoio brasileiro da secretária dos EUA contra o Irão, Lula disse que a questão deve ser tratada com o chanceler Celso Amorim, que recebeu Hillary antes do encontro dela com o presidente.

Lula, que disse já ter tratado com líderes mundiais, incluindo o presidente norte-americano, Barack Obama, sobre a posição do Brasil com relação ao Irão, acrescentou que pretende ter uma "conversa muito franca" com o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, sobre a questão.

"Se o Irão quiser ir além disso (uso pacífico da energia nuclear), o Irão irá contra o que está estabelecido na Constituição brasileira, e por isso nós não poderemos concordar", afirmou o presidente.

Lula tem viagem prevista à República Islâmica em Maio. Ahmadinejad esteve no Brasil em Novembro do ano passado, quando Lula também defendeu o direito iraniano a um programa nuclear com fins pacíficos.

Angola Press, 4 de Março de 2010.

Teerão critica falta de confiança dos ocidentais na política nuclear

O Irão criticou ontem a falta de confiança dos Estados Unidos, da França e da Alemanha na política nuclear iraniana, numa carta aberta ao conselho de ministros da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), reunido em Viena para examinar a possibilidade de novas sanções contra Teerão.
Na carta, o Irão cita as “faltas de cumprimento” dos três países nos contratos assinados com Teerão na área nuclear, antes da revolução de 1979. O país pede aos ministros da AIEA que tenham em consideração a questão no momento de avaliar as “contestações legítimas” do Irão no âmbito nuclear. A República Islâmica afirma que um problema de confiança com as grandes potências levou o país a rejeitar a proposta de trocar o urânio iraniano ligeiramente enriquecido por combustível para o reactor de pesquisas de Teerão, e a decidir iniciar no seu próprio território a produção de urânio altamente enriquecido (a 20 por cento).
A recusa provocou uma condenação da AIEA em Novembro. Os ministros da agência analisam desde ontem uma quarta etapa de sanções contra Teerão no Conselho de Segurança da ONU.
Na carta aberta, o Irão recorda as divergências com os Estados Unidos, Alemanha e França, que não entregaram, após a revolução islâmica de 1979, o combustível nuclear que o regime do xá havia comprado para o reactor de Teerão e a central nuclear de Busher.

Programa nuclear duvidoso

O director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Yukiya Amano, advertiu ontem, em Viena, que os inspectores do órgão não conseguiram confirmar a natureza pacífica do programa nuclear do Irão. “Não conseguimos comprovar que todo o material nuclear no Irão é destinado a actividades pacíficas, já que o Irão não ofereceu à AIEA a cooperação necessária”, disse o japonês na abertura da reunião do conselho de ministros da AIEA.
Segundo Amano, que assumiu o cargo em Dezembro, a “cooperação necessária” inclui a “aplicação das resoluções relevantes do conselho de ministros e do Conselho de Segurança da ONU”, além da implementação do protocolo adicional do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP). Este protocolo permite aos especialistas da AIEA fazer inspecções sem aviso prévio em qualquer instalação da República Islâmica.
Jornal de Angola, 2 de Março de 2010

terça-feira, 2 de março de 2010

Guerra ao Terror: desculpa para treinar terroristas

O Ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Manouchehr Mottaki, afirmou que a pretensa Guerra ao Terror do ex-presidente dos EUA, George W. Bush, na verdade serviu de cobertura para o treino de terroristas.

“Combater o terrorismo por acaso significará apoiar assassinos profissionais?” Questionou no Conselho dos Direitos Humanos da ONU, em Genebra, de acordo com o porta-voz o Ministério dos Negócios Estrangeiros, Ramin Mehmanparast, que o acompanhou nesta viagem.

“Os EUA devem explicar porque razão agendaram um encontro com Abdolmalek Rigi. Os EUA devem explicar porque razão se encontrava Abdolmalek Rigi na base dos EUA no Afeganistão e porque razão este se ia encontrar com dirigentes americanos de topo na base americana de Manas, nos arredores da capital de Kyrgyz, Bishkek”, acrescentou.

A semana passada, as forças de segurança iranianas capturaram o líder do grupo terrorista de Jundallah, Abdolmalek Rigi, enquanto este se encontrava a bordo de um voo do Dubai para o Kyrgistão.

“Os EUA não estão a par de que mais de 400 pessoas foram assassinadas ou feridas em actos criminosos levados a cabo por este grupo?”, acrescentou Mottaki.

Mehmanparast indicou que o ministro dos Negócios Estrangeiros também criticou os aliados europeus dos Estados Unidos por removerem a Organização dos Mujahedin do Povo (MKO) da sua lista de grupos terroristas.

O MKO, listado como grupo terrorista no Irão, no Iraque, no Canadá e nos Estados Unidos da América, assumiu a autoria de inúmeros atentados mortais levados a cabo contra membros do governo iraniano e contra civis iranianos nos últimos 30 anos.

Entre estes ataques incluem-se os assassinatos do falecido presidente Mohammad-Ali Rajaei, do primeiro-ministro Mohammad-Javad Bahonar e do chefe judiciário Mohammad Beheshti.

Também é conhecida a colaboração da MKO com o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein na supressão das revoltas no Sul do Iraque em 1991 e no massacre dos curdos iraquianos.

A organização é, para além disto, conhecida pelos seus aspectos de seita, nomeadamente pelas tácticas de intimidação exercidas contra os seus próprios membros, tais como o assassinato e a tortura de membros que a abandonem.

AAPRII

Foi com alguma surpresa, mas também com agrado, que verificámos o surgimento da Associação de Amizade de Portugal à República Islâmica do Irão (AAPRII), embora tal denote também o mau trabalho da AAPI nos últimos quatro anos, que na prática, embora contando com o reconhecimento das autoridades de Teerão, nunca se legalizou como associação.
Reproduzimos em seguida o primeiro comunicado da AAPRII e adicionamos o seu endereço às nossas ligações. Com a AAPRII, o PIBC e a ainda activa AAPI, a República Islâmica do Irão conta actualmente com a simpatia de três organismos independentes. Que muitos mais surjam.

Comunicado 1 - Terrorismo em Teerão

No dia 12 de Janeiro de 2010 houve uma tremenda explosão em Teerão. Vítima entre elas o físico nuclear Massoud Ali Mohammadi.

A investigação não deixou dúvida - ATENTADO.

A comunicação social ocidental noticiou "secamente" sem dar ao sucedido qualquer relevância, nem gastou muito tempo ou espaço. E, sem comentários.

Os habituais e repetitivos comentadores políticos ficaram mudos.

Igual situação em Nova York ou Tel Aviv daria horas de antena e Km de papel, e os comentadores políticos deliciar-se-iam

Fora do contexto da guerra, que está claramente deferido, qualquer ataque a pessoas ou bens é crime. Se a motivação for económica, que é o mais corriqueiro chamam-lhe delito comum. Se for familiar trata-se de crime passional, etc, etc ...Se a motivação é política é terrorismo.

Que se saiba não houve desentendimento, na família do Sr.... nem aquele atentado benificiou, quem quer que fosse, pessoalmente. Não restam pois dúvidas que se tratou de motivação política. Terrorismo. Então porque não foi tratadopela comunicação social como já nos vem habituando a ver tratar.

Terrorismo? Toda a gente, íncluindo esta associação, condena o terrorismo. Mas todo o terrorismo? Ou será que há dois tipos de terrorismo? Um mau, apelidado de satânico pelo americano Bush: Argélia 195..; Congo 1959/60; Angola 1961; ETA no tempo de Franco; Laos e Camboja durante a guerra do Vietnam; assassínios sem conta na Améria Latina; massacres a palestinianos; bombardeamentos a civis no Iraque; Afeganistão e Paquistão; bombardeamento a Trípoli em 1986, etc...; E um bom como o atentado em Teerão?

domingo, 14 de fevereiro de 2010

A traição dos Nobel

Elie Wiesel baptizou modestamente a sua benévola fundação com o nome de Fundação Elie Wiesel para a Humanidade. Ao abrigo desta recolheu as assinaturas de 43 personalidades galardoadas com o prémio Nobel em apoio à resistência interna do Irão (New York Times, 7 de Fevereiro, 2010, p. 19). Embora Wiesel tenha sido galardoado com o Prémio Nobel da Paz (em 1986), o seu apelo pode ser considerado tudo, excepto um apelo para uma resolução pacífica e negociada da “questão iraniana” na Ásia ocidental.
Permitam-me recordar os laureados com o prémio Nobel que assinaram este apelo uma das principais razões para a recusa voluntária, de Jean-Paul Sartre, da aceitação do Prémio Nobel da Literatura em 1964: “Não será a mesma coisa se eu assinar Jean-Paul Sartre ou Jean-Paul Sartre, vencedor do Prémio Nobel. Um escritor deve recusar deixar-se transformar numa instituição, mesmo que esta lhe surja do modo mais honorífico.”
Para além do seu apoio aos seus dissidentes, há muito que Wiesel tem sido um falcão exacerbado no que diz respeito ao Irão, como o confirmou logo após a publicação do seu apelo. Numa quase adenda na forma de uma entrevista declarou que não derramaria uma lágrima “caso saiba que Ahmadinejad foi assassinado” e, referindo-se a este como sendo “uma ameaça patológica à paz mundial”, asseverou que o presidente do Irão “tenciona destruir Israel e causar uma catástrofe mundial”. Wiesel aproveitou também a ocasião para repudiar o Relatório Goldstone como constituindo “um crime contra o povo judeu, como um todo”.
No que diz respeito ao Irão, Wiesel encontra-se em completa harmonia com Shimon Peres, o presidente de Israel, de linha dura, que incongruentemente partilhou o Prémio Nobel da Paz com Yitzhak Rabin e com Yasser Arafat (em 1994).
Podemos apenas ansiar que o presidente Barack Obama, a mais recente personalidade galardoada com o Prémio Nobel da Paz, acabe por honrar o mérito da honra que lhe foi atribuída prematuramente (que, no espírito de Sartre, podia pelo menos ter considerado recusar). O presidente imperial da América devia ajudar na reabilitação das intenções e do espírito do desejo de Alfred Nobel em premiar anualmente “a personalidade que mais tenha contribuído ou mais tenha trabalhado em benefício da fraternidade entre as nações, a abolição ou a redução dos exércitos existentes e pela promoção e participação em congressos nos quais se discuta a paz.”

12 de Fevereiro, 2010, Counterpunch
Arno J. Meyer

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Os reaccionários coloridos

Rinascita – Professor Mutti, tem-se interessado pelo desenvolvimento da Revolução islâmica no Irão desde que, há trinta anos, publicou alguns escritos do Imã Khomeini nas Edizioni all’insegna del Veltro. Actualmente acompanha o desenrolar da política iraniana por intermédio do observatório da revista de estudos geopolíticos “Eurásia”, da qual é redactor. Que lugar ocupa o Irão actualmente no contexto geopolítico?

C. Mutti – Embora se encontre rodeado por potências hostis (os regimes wahabitas e filoamericanos da península arábica) e por países submetidos à ocupação militar ocidental (Iraque, Afeganistão e Paquistão), a República Islâmica do Irão tem vindo a aumentar o seu peso geopolítico, de modo que exerce actualmente uma influência regional que se estende do Tajiquistão até aos movimentos de libertação do Líbano e da Palestina, e entre os países seus amigos encontramos a Turquia e a Síria. Por fim, é fundamental o facto do Irão ocupar uma posição geográfica de enorme valor para a segurança da Rússia e dispor de um património petrolífero de vital importância para o crescimento económico da China. Deste modo, a República Islâmica do Irão pode contar com a solidariedade das duas maiores potências do continente eurásico.

Rinascita – Quem são, na realidade, os manifestantes que a imprensa ocidental designa de “estudantes”, “reformistas”, “ala verde”, “revolucionários” e assim sucessivamente?

C. Mutti – Mais do que de revolucionários tratam-se, na verdade, de autênticos reaccionários, tal como o demonstram dar azo a equívocos as suas próprias palavras de ordem, das mais explicitas entre estas a – “Morte à vilayat-e faqih” – que deseja o fim da governação islâmica. Além disso, são muito dignos de nota as palavras referentes ao seu posicionamento internacional: “Nem Gaza nem Líbano, só me sacrifico pelo Irão!” e “Morte à Rússia e à China!”. Por último, é interessante que os manifestantes tenham ressuscitado o termo “República iraniana”, que era o do usurpador Xá Reza. As reivindicações expressas por estas frases não são pertença de uma mera franja extremista do movimento reaccionário, são também as palavras dos seus líderes. Tanto o são que Mir Hussein Mussavi (o candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais) se tem negado a desautorizá-las.

Por outro lado, sabemos que a oposição é uma coligação multicolor que reagrupa indivíduos de várias orientações políticas: reaccionários nostálgicos da dinastia Pahlevi, resíduos dos grupúsculos marxistas que o Imã Khomeini chamava, depreciativamente, de “comunistas Made in USA”, e terroristas democráticos da organização dos Mujahedin do Povo [Muyahidin-e khalq].

Rinascita – Contudo, se não me falha a memória as Edizioni all’insegna del Veltro publicaram uma compilação de documentos dos Mujahedin do Povo…

C. Mutti – Aquele livro (Documenti della guerra sacra) foi publicado em 1979, ou seja, numa altura em que os Mujahedin do Povo lutavam contra o regime colaboracionista do Xá ao lado de outros elementos políticos do povo iraniano. Só posteriormente é que os militantes da dita organização apontaram as suas armas contra os seus compatriotas, responsabilizando-se por sanguinários atentados levados a cabo por células no estrangeiro e merecendo o ignominioso epíteto de munafiqin (“hipócritas”).

Rinascita – Quais são as estruturas estrangeiras que inspiram as acções dos actuais opositores ao governo islâmico?

C. Mutti – Já em Junho de 2009, no discurso pronunciado na ocasião da Oração da Sexta-Feira, o Aiatola Khamenei estabeleceu uma clara relação entre os acontecimentos pós eleitorais no Irão e a chamada “revolução das rosas” orquestrada por Soros na Geórgia. A acusação do Aiatola Khamenei foi confirmada por uma notícia publicado a edição do “Stampa” de 28 de Junho de 2009, num artigo de Maurizio Molinari: O Departamento de Estado estadunidense colocou à disposição dos activistas “reformistas” fundos federais no valor de 20 milhões de dólares. Em 2006 Condoleeza Rice já tinha disponibilizado 66 milhões de dólares para os “dissidentes” iranianos. Já para não falar do dinheiro provavelmente oferecido pelas células estruturas subversivas que intervêm pontualmente no apoio às ditas “revoluções coloridas”: o Center for International Private Enterprise, o National Democratic Institute for International Affais, o International Republican Institute, etc.

Rinascita – Na sua opinião, Khamenei tem os dias contados? O presidente Ahmadinejad cairá?

C. Mutti – Para nos apercebermos do enorme consenso de que goza o Aiatola Khamenei, basta dar uma vista de olhos aos vídeos das manifestações populares organizadas em seu apoio (um desses vídeos encontra-se também no portal da Coordenadora do Projecto Eurásia www.cpeurasia.org). Compare-se os milhões de pessoas que se manifestaram em seu nome com os parcos milhares de hooligans “direito-humanistas” recrutados na sua esmagadora maioria nos bairros do norte de Teerão.

Quanto ao presidente Ahmadinejad, a solidez da sua posição está confirmada pelo consenso eleitoral recentemente decretado em seu favor pelo povo iraniano.

(Entrevista de Davide D’Amario efectuada a Claudio Mutti, “Rinascita”, 15 de Janeiro de 2010)