quinta-feira, 15 de julho de 2010

O despudor e o topete israelitas

Encontra-se entre nós o ministro dos Negócios Estrangeiros da República Islâmica do Irão, Dr. Manoutchehr Mottaki (que hoje recebeu de manhã jornalistas portugueses para uma franca, aberta e participada conferência) que, como é óbvio e evidente, pelas mais simples regras de cortesia, protocolo e reciprocidade existentes entre países com relações diplomáticas (como é o caso), foi ontem recebido pelo seu congénere português no Palácio das Necessidades. Acto, pois, absolutamente normal e compreensível.

Não compreensível a reacção despudorada do embaixador sionista em Lisboa que se atreveu a classificar o acto como "surpreendente", lançando duras críticas às autoridades portuguesas por terem recebido o chefe da diplomacia iraniana (ainda a entidade sionista não existia já nós mantinhamos relações diplomáticas com o Irão).

Surprendente, de facto, o topete do representante daquela potência nuclear regional - frequentemente desestabilizadora da região - que pretende impôr a sua agenda aos demais Estados soberanos.

Surpreendente como um Estado, que reiteradamente e tantas vezes violou determinações das Nações Unidas, se arvora em ofendido quando outros não se vergam à sua vontade.

Surprendente vindo de um estado agressor o que, até ver, nunca foi o caso do Irão...

Cada um que tire as suas conclusões.

14 de Julho, 2010, Reverentia.
Humberto Nuno de Oliveira

O Irão e a energia nuclear

Com cerca de 72 milhões de habitantes, a República Islâmica do Irão, na direcção da sua construção e esplendor, realizou grandes esforços e teve um grande de- senvolvimento na área da energia nuclear pacífica. No quadro das quatro décadas de presença do Irão na Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) e de acordo com o Tratado de Não-Proliferação das Armas Nucleares (TNP), todos os progressos científicos são apenas para fins pacíficos e económicos.

No entanto, no seguimento das suas actividades, no passado com a provocação de Saddam Hussein para impor uma guerra destrutiva de oito anos contra o Irão e agora com as sanções económicas e as pressões políticas com diversos pretextos, os Estados Unidos da América têm liderado um movimento que molda a opinião pública a propósito das actividades nucleares do Irão, que dizem ter como objectivo o acesso às armas nucleares.

Apesar da insistência de mais de 20 relatórios da AIEA sobre a ausência de provas de desvio das actividades nucleares do Irão para fins militares, e da ausência de qualquer prova para tal acusação rancorosa dos EUA, a pergunta principal é saber porque é que o governo dos EUA, intencionalmente, mistura os seus objectivos políticos com tal inimizade rancorosa contra o Irão.

A seriedade do Irão relativamente aos seus compromissos e leis internacionais, incluindo o TNP, é exemplar. O Irão nunca falhou compromissos e as suas actividades nucleares tiveram sempre vigilância da AIEA, que fez mais de 30 inspecções sem pré-avisos às instalações nucleares iranianas. Comparativamente com outros membros da AIEA, foi no Irão que a agência realizou o maior número de inspecções: 4500 pessoas/dia. No quadro dos seus compromissos na organização, o Irão aceitou a observação da agência para as suas actividades. Actualmente, as câmaras da agência estão constantemente a obter imagens das actividades nucleares. Nas instalações nucleares do Irão, todas as entradas e saídas de produtos nucleares são medidas por inspectores.

Em contrapartida, já passaram quatro décadas desde a aprovação do TNP e o mundo continua à espera da aplicação do sexto artigo do tratado sobre o desarmamento dos países possuidores de armas nucleares. Infelizmente, tal não aconteceu. Pelo contrário, os possuidores destas armas de-sumanas defendem, sempre, a sua manutenção como parte da sua defesa. Alguns até ameaçam outros países com essas armas. O incumprimento do tratado não se limita a este ponto, mas serviu, também, para ajudar a equipar o regime sionista com essas armas destruidoras. De modo que o regime sionista, com o sentimento do apoio dos Estados Unidos, recusou ser membro da AIEA e não assinou o TNP.

Actualmente, esse regime tem na sua posse 200 ogivas nucleares. É por isso que Israel está no sexto lugar entre os países do mundo com arsenais nucleares. São, de facto, os mesmos países que não permitiram a aprovação de qualquer resolução por parte das Nações Unidas sobre os perigos das armas de destruição em massa de Israel.

As Nações Unidas foram criadas para a promoção da paz no mundo. Infelizmente, a organização transformou-se num clube exclusivo dos países com direito de veto. Durante quatro décadas, os detentores de armas nucleares não cumpriram as promessas para as destruir. Hoje todos os países assistem ao aumento do equipamento e ao armamento do regime sionista.

Isto acontece numa altura em que, apesar da cooperação extraordinária do Irão com a AIEA e da falta de provas do desvio das actividades nucleares do Irão, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou quatro resoluções contra o Irão sem qualquer fundamento legal.

Repetidamente, o Irão declarou que procura ter acesso aos inúmeros benefícios da energia nuclear pacífica em diversas áreas, como a radioterapia, a energia, a indústria e a agricultura. De acordo com a presença na AIEA e no TNP, o Irão acredita ter o direito de acesso aos recursos necessários para utilização dessa ciência desenvolvida para os seus objectivos pacíficos. Do mesmo modo que o povo e o governo do Irão respeitam os compromissos com o TNP, também não podem permitir qualquer país prive o Irão do seu direito fundamental e elementar que é o acesso à energia nuclear. Como num futuro próximo, todas as energias fósseis vão ser esgotadas, o desenvolvimento e o progresso do país depende dessas fontes de energia: a energia nuclear é economicamente mais sustentável e limpa para o ambiente.

O Irão é contra a posse de armas nucleares que considera desumanas e "haram" [proibida pelo islão]. O Irão acredita ainda que, para eliminar as ameaças mundiais, todas as armas nucleares devem ser destruídas o mais rapidamente possível. Por isso, na conferência sobre a revisão do TNP, o presidente da República do Irão apresentou propostas para livrar o mundo de armas nucleares. De acordo com essas propostas, o mundo, e especialmente o Médio Oriente, deve ficar livre de arsenais nucleares e todos os países devem tomar iniciativas para o desarmamento do regime sionista, a maior ameaça à paz na região.

Desde 1974 que o Irão é pioneiro na aplicação deste slogan e faz dele uma política primordial. A realização da Conferência de Teerão, no mês de Abril, sobre desarmamento nuclear com o lema "Energia nuclear para todos, armas nucleares para ninguém", mostrou a posição da República Islâmica do Irão e de uma grande parte dos países do mundo sobre as armas nucleares.

Felizmente, no palco internacional, estamos a assistir a evoluções muito importantes na recusa do unilateralismo, das políticas discriminatórias, da utilização das políticas ambíguas e da instrumentalização das organizações internacionais para objectivos e fins políticos. A oposição de três países (Brasil, Turquia e Líbano) à Resolução 1929 contra o Irão, no Conselho de Segurança, anuncia o início das novas relações no palco internacional.

Lula da Silva, o presidente do Brasil, mostrou o seu desgosto com a decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O presidente Lula afirmou que a aprovação traduz o comportamento "contraditório" do conselho perante o Irão. É interessante sublinhar que a aprovação da Resolução se realizou numa altura em que - no seguimento do pedido escrito de Barack Obama - os dois países, Brasil e Turquia, tinham tomado a iniciativa de assinar a Declaração de Teerão, criando um clima de confiança que eliminasse as preocupações que os EUA queriam lançar sobre o programa nuclear do Irão.

A actuação de países independentes e eficazes, como a Turquia e o Brasil, mostra uma nova postura nos diversos palcos internacionais, onde todas as nações participam com justiça e respeito perante os direitos de todos os países independentes. Essa nova actuação está a substituir o procedimento injusto e discriminatório actual e recusa as posições ambíguas.

A afirmação e a aprovação da declaração final da Conferência de Revisão do TNP pela comunidade internacional, em Nova Iorque, reforçou a necessidade de adesão do regime sionista ao tratado, bem como a aceitação das inspecções da AIEA sobre as suas actividades atómicas. Foi também mais um grande sinal para os EUA, que apoiam incondicionalmente o regime sionista com uma dupla política. Os EUA devem aprender a respeitar a vontade dos povos e deixar o mundo seguir o seu caminho na direcção de paz.

Portugal tem um clima suave e um povo tolerante, que há muitos séculos tem relações com os iranianos, e que conhece muito bem objectivos pacíficos e totalmente tolerantes. Espero que a minha visita a Portugal, um país tão lindo, seja mais um passo no desenvolvimento e na diversificação das nossas relações, a todos os níveis, e no entendimento crescente entre os nossos povos e governos.

14 de Julho, 2010, i Online.
Manoucher Mottaki