sábado, 22 de setembro de 2007

Kouchner nega grito de guerra contra o Irão


"Não quero que as pessoas digam que sou um espalha-brasas. A minha mensagem foi de paz e seriedade". O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Bernard Kouchner, esclareceu ontem que o seu país apenas pretende evitar uma guerra com o Irão e acusou a imprensa de manipular as declarações que fez no domingo.

Num programa televisivo, o ministro de Sarkozy disse que "o mundo deve preparar-se para o pior", no que respeita ao braço-de-ferro entre o Irão e os países ocidentais sobre o seu controverso programa nuclear. Questionado sobre o que era o pior, respondeu sem qualquer hesitação ou cautela diplomática: "é a guerra".

A caminho de Moscovo, onde ontem esteve reunido com o seu homólogo russo, Serguei Lavrov, Kouchner desdobrou-se em explicações aos jornalistas que o acompanhavam no avião e tentou acalmar a polémica originada pelas suas declarações. "A situação pior seria a guerra. Mas para evitá-la, a atitude francesa é a de negociar, negociar, negociar. E trabalhar com os parceiros europeus para ter sanções credíveis".

A França ficaria contente com uma resolução das Nações Unidas, que aprovasse um terceiro pacote de sanções contra Teerão, mas caso isso não aconteça torna-se necessário pensar em sanções fora da ONU, referiu o chefe da diplomacia francesa, segundo o Monde on-line. Paris, agora mais próxima de Washington, está apostada em convencer os seus restantes parceiros da União Europeia a elaborar um regime de sanções que vá mais além do que aqueles que já foram decididos pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O primeiro-ministro e presidente da UE, José Sócrates, admitiu ontem em Lisboa o recurso "a todas as formas de sanções" ao Irão, no caso de o país desrespeitar as leis internacionais sobre energia nuclear.

Alguns jornais alemães escreveram que as declarações do ministro visam pressionar Berlim a adoptar uma atitude mais dura face ao Irão. O país islâmico é acusado pelos EUA de estar a fabricar a bomba atómica. E o seu Presidente já ameaçou que irá "apagar Israel do mapa".

Mahmud Ahmadinejad desvalorizou as declarações de Kouchner, garantindo que não são "sérias", pois "uma coisa são as afirmações mediáticas e outra as posições reais". O líder iraniano falava à imprensa à saída do Parlamento em Teerão.

Kouchner chega hoje a Washington, vindo de Moscovo, em vésperas da reunião do Conselho de Segurança da ONU. Mas dois dos seus membros, Rússia e China, não gostam da ideia de novas sanções contra Teerão sem ouvir antes a Agência Internacional de Energia Atómica. Ahmadinejad, por seu lado, chega a Nova Iorque, no domingo, para a Assembleia Geral da ONU.
Patrícia Viegas, Diário de Notícias, 19 de Setembro de 2007

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