O programa de enriquecimento de urânio do Irão está a funcionar abaixo das suas capacidades e está ainda longe de conseguir produzir combustível nuclear em quantidades significativas, revela um relatório da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), que deverá dificultar os esforços dos EUA para a aprovação de novas sanções contra o país.
O relatório só deverá ser tornado público na próxima reunião do conselho de governadores da agência, no próximo dia 10 de Setembro, mas as agências internacionais citam fontes envolvidas na sua elaboração para adiantar que o documento é mais favorável a Teerão do que os anteriores.
Por um lado, os inspectores da AIEA concluíram que os peritos iranianos estão longe de conseguir produzir combustível nuclear em quantidades industriais, ao contrário do que o país anunciou no passado mês de Abril.
Segundo o relatório, a central de Natanz tem apenas em funcionamento duas mil centrifugadoras, divididas em 12 sistemas integrados (denominados cascatas), destinadas ao enriquecimento de urânio. Outras quatro estão em construção ou em fase de testes, pelo que será impossível atingir no final do ano o número necessário para garantir a produção de combustível.
"O Irão teve um início rápido, mas depois começou a marcar passo", afirmou uma fonte da ONU, citada pela Reuters, adiantando que os peritos desconhecem as razões deste atraso. "Desde o início de Junho puseram em funcionamento apenas duas cascatas e isso não é muito", acrescentou.
Da mesma forma, a AIEA concluiu que Teerão está a enriquecer urânio numa concentração inferior à anunciada — 3,7 por cento de matéria físsil, contra os 4,8 declarados por Teerão. O combustível usado nas centrais nucleares necessita de uma concentração próxima dos cinco por cento, enquanto uma bomba nuclear precisa de uma concentração próxima dos 80 por cento.
Analistas ouvidos pela Reuters adiantam que é incerto se este atraso se deve a problemas técnicos ou se os peritos receberam instruções para desacelerar as experiências, a fim de bloquear os esforços da Administração norte-americana, que nas últimas semanas deu sinais de que poderá propor ao Conselho de Segurança a aprovação de novas sanções contra Teerão.
AIEA saúda acordo com Teerão
No relatório, a AIEA faz também questão de saudar o acordo concluído há dez dias com a República Islâmica, ao abrigo do qual Teerão se comprometeu a responder a questões colocadas há vários anos pelos peritos internacionais, até agora sem resposta.
Espera-se agora que o país detalhe as experiências que desenvolveu no passado com plutónio — uma actividade nunca explicada e que contribuiu para a aprovação de sanções contra o país — e explique os vestígios de urânio altamente enriquecidos detectados pela AIEA ou os documentos encontrados contendo informações sobre as aplicações militares do urânio.
O relatório sustenta que o compromisso assumido por Teerão representa "um significativo passo em frente", mas sublinha que, por si só, não constitui um salvo-conduto para as actividades iranianas. "O Irão deverá continuar a estabelecer um clima de confiança sobre a amplitude e a natureza dos seus programas nucleares presentes e futuros", lê-se no documento. A AIEA pretende agora que o regime iraniano aceite inspecções mais abrangentes, que incluam localizações militares, até agora vedadas aos peritos internacionais, a fim de garantir que não estão a ser usadas para actividades secretas.
Público, 30 de Agosto de 2007 [fonte]
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