"A Assembleia Geral é um teatro onde actuam os Ahmadinejad e outros do género, uma twilight zone que serve de palco a ditadores com megafones de lata. Deve ser tratada como produção off-Broadway". A frase é de John Bolton, ex-embaixador americano na ONU. Nada que os políticos não saibam. Por isso, eles tentam a tirada de impacto, o gesto que lhes assegure entrada na memória colectiva.
No ano passado, Hugo Chávez saiu-se com "este lugar cheira a enxofre", por antes lá ter passado o "demónio" George W. Bush. Em 1975, Idi Amin, do Uganda, exigiu aos EUA que se livrassem "dos sionistas" e "a extinção de Israel como estado". Um ano antes, Yasser Arafat, com um coldre vazio a fingir que estava armado, ameaçava: "Vim com um ramo de oliveira e a arma de um lutador pela liberdade. Não façam com que o ramo me caia das mãos." O ano mais marcante foi 1960, quando Fidel Castro debitou uma tirada de quatro horas e Nikita Krushchev martelou com o sapato na bancada para protestar contra a crítica de um delegado à União Soviética.
Como em todas as produções off-Broadway, a publicidade ao show é fundamental para o êxito. Este ano, Mahmud Ahmadinejad ganhou notoriedade antes mesmo de subir ao palco.
No ano passado, pediram-lhe para discursar na Universidade de Columbia, mas o pedido foi recusado. Este ano vai lá, com a condição de o presidente da universidade, Lee Bollinger, o interpelar sobre as suas posições mais polémicas, como a defesa da destruição de Israel e a negação do Holocausto nazi. Era, portanto, necessário encontrar um golpe publicitário mais forte - como, por exemplo, um pedido de visita ao Ground Zero, símbolo do maior dos ataques terroristas.
Em entrevista à CBS, Ahmadinejad disse estar espantado com a reacção dos americanos ao considerarem o pedido um insulto: "Porquê? Normalmente vamos a esses locais demonstrar respeito e dar o nosso ponto de vista sobre as raízes desses incidentes."
Com base na falta de segurança devido à construção da Torre da Liberdade, a 11 de Setembro o mayor Michael Bloomberg recusou às famílias das vítimas a ida ao Ground Zero para assinalarem os seis anos dos atentados. Foi assim fácil à polícia de Nova Iorque recusar a pretensão de Ahmadinejad.
A polémicaserve os intentos do presidente iraniano: ele pode mostrar aos seus compatriotas os tablóides americanos classificando-o de idiota por ter querido prestar respeito às vítimas e iluminá-los sobre as acções de Washington que originaram os atentados.
Passada a fase propagandística, as 48 horas de Amadinejad em Nova Iorque deverão ser calmas. Estamos no Ramadão, época que aconselha o retiro e jejum durante o dia. Haverá uma grande manifestação junto das Nações Unidas, mas afastada uns quantos quarteirões, e Ahmadinejad nem a verá. Pelo contrário, terá que atravessar a manifestação prevista para amanhã junto à Universidade de Columbia.
Na noite de terça-feira, regressa a Teerão certo de ter sido a estrela da 62ª Assembleia Geral da ONU.
Mas talvez tenha surpresas. Há uns cem anos, os nova-iorquinos encontraram uma resposta à altura para um visitante do género. Contou o presidente Theodore Roosevelt nas memórias (em 1913) que, quando era comissário da polícia de Nova Iorque, teve que prover a segurança a um dirigente alemão conhecido pelas opiniões anti-semitas. Roosevelt teve o cuidado de escolher para a segurança um grupo de agentes todos eles judeus.
Escreveu Roosevelt que "a melhor coisa a fazer é torná-los ridículos. Foi a resposta mais eficiente; e ao mesmo tempo uma lição para o nosso povo, para aprender que não devem existir divisões baseadas no ódio de classes".
Diário de Notícias
No ano passado, Hugo Chávez saiu-se com "este lugar cheira a enxofre", por antes lá ter passado o "demónio" George W. Bush. Em 1975, Idi Amin, do Uganda, exigiu aos EUA que se livrassem "dos sionistas" e "a extinção de Israel como estado". Um ano antes, Yasser Arafat, com um coldre vazio a fingir que estava armado, ameaçava: "Vim com um ramo de oliveira e a arma de um lutador pela liberdade. Não façam com que o ramo me caia das mãos." O ano mais marcante foi 1960, quando Fidel Castro debitou uma tirada de quatro horas e Nikita Krushchev martelou com o sapato na bancada para protestar contra a crítica de um delegado à União Soviética.
Como em todas as produções off-Broadway, a publicidade ao show é fundamental para o êxito. Este ano, Mahmud Ahmadinejad ganhou notoriedade antes mesmo de subir ao palco.
No ano passado, pediram-lhe para discursar na Universidade de Columbia, mas o pedido foi recusado. Este ano vai lá, com a condição de o presidente da universidade, Lee Bollinger, o interpelar sobre as suas posições mais polémicas, como a defesa da destruição de Israel e a negação do Holocausto nazi. Era, portanto, necessário encontrar um golpe publicitário mais forte - como, por exemplo, um pedido de visita ao Ground Zero, símbolo do maior dos ataques terroristas.
Em entrevista à CBS, Ahmadinejad disse estar espantado com a reacção dos americanos ao considerarem o pedido um insulto: "Porquê? Normalmente vamos a esses locais demonstrar respeito e dar o nosso ponto de vista sobre as raízes desses incidentes."
Com base na falta de segurança devido à construção da Torre da Liberdade, a 11 de Setembro o mayor Michael Bloomberg recusou às famílias das vítimas a ida ao Ground Zero para assinalarem os seis anos dos atentados. Foi assim fácil à polícia de Nova Iorque recusar a pretensão de Ahmadinejad.
A polémicaserve os intentos do presidente iraniano: ele pode mostrar aos seus compatriotas os tablóides americanos classificando-o de idiota por ter querido prestar respeito às vítimas e iluminá-los sobre as acções de Washington que originaram os atentados.
Passada a fase propagandística, as 48 horas de Amadinejad em Nova Iorque deverão ser calmas. Estamos no Ramadão, época que aconselha o retiro e jejum durante o dia. Haverá uma grande manifestação junto das Nações Unidas, mas afastada uns quantos quarteirões, e Ahmadinejad nem a verá. Pelo contrário, terá que atravessar a manifestação prevista para amanhã junto à Universidade de Columbia.
Na noite de terça-feira, regressa a Teerão certo de ter sido a estrela da 62ª Assembleia Geral da ONU.
Mas talvez tenha surpresas. Há uns cem anos, os nova-iorquinos encontraram uma resposta à altura para um visitante do género. Contou o presidente Theodore Roosevelt nas memórias (em 1913) que, quando era comissário da polícia de Nova Iorque, teve que prover a segurança a um dirigente alemão conhecido pelas opiniões anti-semitas. Roosevelt teve o cuidado de escolher para a segurança um grupo de agentes todos eles judeus.
Escreveu Roosevelt que "a melhor coisa a fazer é torná-los ridículos. Foi a resposta mais eficiente; e ao mesmo tempo uma lição para o nosso povo, para aprender que não devem existir divisões baseadas no ódio de classes".
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