domingo, 27 de janeiro de 2008

Saeed Jalili: "O nuclear é um direito do Irão"


Como secretário do Conselho Supremo de Segurança do Irão, Saeed Jalili é o chefe dos negociadores do programa nuclear iraniano e tem que gerir todas as implicações políticas. Agora, tem uma difícil tarefa à frente, com as Nações Unidas a poderem decidir novas sanções contra Teerão, por não respeitar as anteriores resoluções e continuar a enriquecer urânio. As conversações estão num impasse, como Saeed Jalili deu a entender nesta entrevista exclusiva à EuroNews.

Sergio Cantone, EuroNews: "O que pensa sobre esta falta de confiança do Ocidente em relação à capacidade nuclear iraniana?"

Saeed Jalili: "É muito claro hoje que estes países estão apenas à espera dum falso pretexto para tomar estas medidas contra o Irão. Esses mesmos países tinham a melhor cooperação possível com o ditador do Irão, com o antigo regime e assinaram um acordo nuclear com esse regime. Quando essa ditadura foi derrubada pelo povo iraniano, começaram a impôr sanções contra o nosso país e contra o nosso povo."

EuroNews: "A palavra é estabilidade. A resposta é estabilidade. O Irão não está a dar confiança aos outros países..."

Saeed Jalili: "Pensamos, e acreditamos, que a comunidade internacional está a apoiar a posição iraniana, no que toca às actividades e ao programa nuclear pacífico. Mais de 120 países, do movimento dos não-alinhados, apoiaram o programa nuclear iraniano e os seus direitos no âmbito do programa de energia nuclear. Só dois ou três países é que se consideram iguais à comunidade internacional. Até o relatório dos serviços secretos americanos reconhece que o Irão tem um programa nuclear pacífico."

EuroNews: "E sobre a existência de Israel?"

Saeed Jalili: "Acreditamos que a ocupação, a coerção, não dão legitimidade. Tudo tem que ser determinado por um processo democrático, essa é a única solução. Se o resultado de um processo democrático é o desaparecimento de uma entidade, então há um problema com essa entidade."

EuroNews: "Se tem essas ideias a respeito da existência de Israel, essa entidade como lhe chama, não pensa que há países amigos de Israel, como os Estados Unidos ou alguns países europeus, que vão deixar de confiar no Irão, numa altura em que o Irão está a construír uma capacidade nuclear, mesmo dizendo que é civil?"

Saeed Jalili: "Sempre dissemos que a terra palestiniana pertence ao povo que lá vive, incluindo judeus, cristãos e muçulmanos. Não há diferenças entre eles. As pessoas que foram expulsas da terra palestiniana têm o direito de regressar à pátria. E essas pessoas devem ter o direito de participar num processo democrático pela auto-determinação, e a decisão deve ser respeitada, independentemente de qual seja. Não sou eu, nem você, nem nenhum país que deve decidir por eles. Por que se sentem eles em perigo por causa de um simples processo democrático?"

EuroNews: "Acha importante o Irão continuar com o enriquecimento de urânio?"

Saeed Jalili: "Não é importante, mas faz parte dos nossos direitos, segundo o Tratado de Não-Proliferação. Temos um certo número de obrigações e um certo número de direitos. Devemos cumprir as nossas obrigações, mas devemos também poder gozar dos nossos direitos, no quadro do tratado. A questão é: por que razão é importante para esses países? Porque querem eles privar-nos dos nossos direitos?"

EuroNews: "Um país com uma capacidade nuclear pequena e reduzida, como o Irão, pode importar urânio enriquecido de outros países, como a Rússia, o que pode até ser mais barato. Porquê ter uma tecnologia iraniana de enriquecimento?"

Saeed Jalili: "A razão principal é que é uma tecnologia nacional, vamos desenvolvê-la no nosso país. segundo o nosso plano de desenvolvimento a 20 anos, vamos produzir 20.000 megawatts de energia nuclear. Vamos gerar energia através de centrais nucleares e, para isso, vamos precisar de construír 20 centrais nucleares em 20 anos e para isso precisamos de milhares de milhões, em termos de investimento. Quais são as garantias de que esses países vão fornecer-nos combustível para as centrais, se nem sequer aviões de passageiros e peças soltas são capazes de fornecer? Quanta energia pensa que podemos produzir com as centrifugadoras que temos agora? Mesmo se aumentarmos o número dez vezes, não vamos conseguir alimentar nem sequer uma só central nuclear."

EuroNews: "Acha que o tema do nuclear pode fazer parte das conversações alargadas com os Estados Unidos, a respeito da situação no Médio Oriente?"

Saeed Jalili: "Sim, sem problemas. Mas o verdadeiro problema não é haver conversações ou negociações, o problema é como vamos abordar as conversações no futuro. Quando duas partes se encontram para negociar, põe-se a questão de se falam como amigos, como parceiros, como rivais ou como inimigos."

EuroNews: "E quanto à mudança de atitude em França e na Alemanha, que acha?"

Saeed Jalili: "O resultado das políticas vai ser proporcional à atitude que estão a ter. Esses países podem ter mudado de atitude em relação às políticas, as empresas desses países estão agora menos presentes no nosso país e agora estão a assistir ao resultado dessa política." [fonte]

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