O ex-Presidente Khatami também convidou Prodi, Jospin e Kofi Annan. Discute--se religião, com os olhos postos nas eleições de 2009.
O reformador Mohammad Khatami bem tentou negar que uma conferência ontem iniciada em Teerão fosse uma rampa de lançamento para a sua recandidatura à Presidência da República Islâmica. Mas há muito tempo que o Irão, isolado pelo ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, não recebia tantos dignitários estrangeiros, entre eles o ex-chefe de Estado português Jorge Sampaio.
A conferência, de dois dias, foi organizada pela Fundação para o Diálogo entre Civilizações, criada por Khatami, pelo Centro de Oslo para a Paz e Direitos Humanos e pelo Clube de Madrid. Além de Sampaio, foram convidados os ex-presidentes Mary Robinson, da Irlanda, e Joseph Deiss, da Suíça; os antigos primeiros-ministros Romano Prodi, de Itália, Kjell Magne Bondevik, da Noruega, e Lionel Jospin da França; e ainda Kofi Annan, antigo secretário-geral das Nações Unidas.
O tema em debate é A religião no mundo moderno, mas a nenhum analista local escapou a coincidência de este encontro surgir no mês em que Khatami entreabriu a porta a uma eventual recandidatura nas eleições de Junho de 2009.
"Não devemos confundir a conferência com essas questões [presidenciais]", frisou o antecessor de Ahmadinejad. Também os visitantes tentaram demarcar-se das lutas políticas internas. Mary Robinson declarou, segundo a AFP, que o objectivo é apenas "ajudar a prevenir conflitos e tensões no mundo".
No passado dia 5, depois de muitos apelos de grupos políticos e personalidades do campo reformista, Khatami prometeu "apresentar à sociedade um programa elaborado", para evitar os mal-entendidos dos seus dois sucessivos mandatos, entre 1997 e 2005. "A vontade histórica do povo é a liberdade, o progresso e a justiça", disse, citado na altura por vários jornais iranianos.
A segunda condição de Khatami para ser candidato "é ver até que ponto o [novo] programa pode ser aplicado com as estruturas actuais de poder" - uma implícita alusão aos obstáculos no (mau) relacionamento que teve com os "duros" do regime, entre eles o Guia Supremo, ayatollah Ali Khamenei. "Não tenho medo dos resultados eleitorais tendo em conta os sinais que recebo da sociedade.Nada receio, só não quero regressar ao poder seja a que preço for".
Aos 65 anos, Khatami é ainda visto por muitos como a única esperança de impedir a reeleição de Ahmadinejad, sobretudo agora que os mais pobres - a sua base de apoio - compreenderam a falsidade das suas promessas de bonança económica. Quanto mais cai o preço do petróleo, o recurso de que o Irão é o quarto maior produtor mundial, mais dificuldades Ahmadinejad tem em angariar votos, embora ainda beneficie das bênçãos de Khamenei.
Entra em cena Karrubi
Enquanto Khatami hesita, um outro reformador, o teólogo Mehdi Karrubi, de 71 anos, já formalizou a sua candidatura. Talvez para se "vingar" da derrota (ele chama-lhe "fraude") em 2005 - ficou em terceiro lugar, depois de Ahmadinejad e Ali Akbar Hashemi Rafsanjani.
Karrubi foi confidente do ayatollah Khomeini, fundador da República Islâmica, mas gradualmente tem vindo a moderar o fervor revolucionário. Defende, por exemplo, o restabelecimento de laços com os Estados Unidos, cortados em 1980. "Devemos manter boas relações com todos os países, excepto Israel, ou pelo menos evitar a animosidade", disse o mullah que foi presidente do Majlis (Parlamento), em 1990-1992 e 2000-2004. "Devemos tentar não criar inimigos e infligir custos ao país devido a comentários despropositados. Pagamos um preço elevado pelas declarações do Presidente [Ahmadinejad, que nega o Holocausto e defende a destruição de Israel] e não recebemos absolutamente nada em troca".
Karrubi, líder do partido Etemad e-Melli (Confiança Nacional), está em sintonia com a restante classe política ao dizer que o Irão "tem direito a desenvolver um programa nuclear civil", mas reconhece que "é preciso prestar atenção aos receios do Ocidente e garantir a natureza pacífica" do enriquecimento de urânio.
Karrubi é rival de Khatami, mas admite desistir se surgir outro candidato que una os reformadores. [fonte]
A conferência, de dois dias, foi organizada pela Fundação para o Diálogo entre Civilizações, criada por Khatami, pelo Centro de Oslo para a Paz e Direitos Humanos e pelo Clube de Madrid. Além de Sampaio, foram convidados os ex-presidentes Mary Robinson, da Irlanda, e Joseph Deiss, da Suíça; os antigos primeiros-ministros Romano Prodi, de Itália, Kjell Magne Bondevik, da Noruega, e Lionel Jospin da França; e ainda Kofi Annan, antigo secretário-geral das Nações Unidas.
O tema em debate é A religião no mundo moderno, mas a nenhum analista local escapou a coincidência de este encontro surgir no mês em que Khatami entreabriu a porta a uma eventual recandidatura nas eleições de Junho de 2009.
"Não devemos confundir a conferência com essas questões [presidenciais]", frisou o antecessor de Ahmadinejad. Também os visitantes tentaram demarcar-se das lutas políticas internas. Mary Robinson declarou, segundo a AFP, que o objectivo é apenas "ajudar a prevenir conflitos e tensões no mundo".
No passado dia 5, depois de muitos apelos de grupos políticos e personalidades do campo reformista, Khatami prometeu "apresentar à sociedade um programa elaborado", para evitar os mal-entendidos dos seus dois sucessivos mandatos, entre 1997 e 2005. "A vontade histórica do povo é a liberdade, o progresso e a justiça", disse, citado na altura por vários jornais iranianos.
A segunda condição de Khatami para ser candidato "é ver até que ponto o [novo] programa pode ser aplicado com as estruturas actuais de poder" - uma implícita alusão aos obstáculos no (mau) relacionamento que teve com os "duros" do regime, entre eles o Guia Supremo, ayatollah Ali Khamenei. "Não tenho medo dos resultados eleitorais tendo em conta os sinais que recebo da sociedade.Nada receio, só não quero regressar ao poder seja a que preço for".
Aos 65 anos, Khatami é ainda visto por muitos como a única esperança de impedir a reeleição de Ahmadinejad, sobretudo agora que os mais pobres - a sua base de apoio - compreenderam a falsidade das suas promessas de bonança económica. Quanto mais cai o preço do petróleo, o recurso de que o Irão é o quarto maior produtor mundial, mais dificuldades Ahmadinejad tem em angariar votos, embora ainda beneficie das bênçãos de Khamenei.
Entra em cena Karrubi
Enquanto Khatami hesita, um outro reformador, o teólogo Mehdi Karrubi, de 71 anos, já formalizou a sua candidatura. Talvez para se "vingar" da derrota (ele chama-lhe "fraude") em 2005 - ficou em terceiro lugar, depois de Ahmadinejad e Ali Akbar Hashemi Rafsanjani.
Karrubi foi confidente do ayatollah Khomeini, fundador da República Islâmica, mas gradualmente tem vindo a moderar o fervor revolucionário. Defende, por exemplo, o restabelecimento de laços com os Estados Unidos, cortados em 1980. "Devemos manter boas relações com todos os países, excepto Israel, ou pelo menos evitar a animosidade", disse o mullah que foi presidente do Majlis (Parlamento), em 1990-1992 e 2000-2004. "Devemos tentar não criar inimigos e infligir custos ao país devido a comentários despropositados. Pagamos um preço elevado pelas declarações do Presidente [Ahmadinejad, que nega o Holocausto e defende a destruição de Israel] e não recebemos absolutamente nada em troca".
Karrubi, líder do partido Etemad e-Melli (Confiança Nacional), está em sintonia com a restante classe política ao dizer que o Irão "tem direito a desenvolver um programa nuclear civil", mas reconhece que "é preciso prestar atenção aos receios do Ocidente e garantir a natureza pacífica" do enriquecimento de urânio.
Karrubi é rival de Khatami, mas admite desistir se surgir outro candidato que una os reformadores. [fonte]
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