segunda-feira, 18 de maio de 2009

Irão reivindica energia nuclear para todos, armas nucleares para ninguém

Manoucher Mottaki, ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão é um seguidor do líder supremo da Revolução Ali Khamenei. Vai coordenar as negociações iranianas do grupo 5+1 (os membros do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha). Com a administração Obama, de atitude mais conciliadora em relação ao Irão, está criado o ambiente de expectativa nas discussões sobre o programa nuclear do Irão.

euronews – O Irão está disposto a fazer novas reuniões ministeriais entre seis partes… o que oferece?

Manoucher Mottaki – (Muito obrigado em nome de Alá o misericordioso) ...o Irão vai actualizar a proposta feita no ano passado. Porque, desde então, o mundo mudou: deu-se a crise económica e monetária, alteraram-se algumas administrações….

euronews – Refere-se à norte-americana…

MM – ...por isso é necessário reexaminar o projecto de novas medidas, preparar nova proposta.

euronews – A questão mais importante é a nuclear. Vai oferecer algo de novo?

MM – Consideramos que os direitos do Irão são negociáveis não têm de estar sujeitos a acordos. O direito das nações a terem energia nuclear é um direito de que gozam todos os membros das Nações Unidas. O nosso ponto de vista é claro: energia nuclear para todos, armas nucleares para ninguém.

euronews – Acha que o facto de alguns países terem armas nucleares, actualmente, dá o direito a outros países, que não as têm, de as procurarem obter?

MM – Um desses países que refere é o que possui maior arsenal nuclear. Felizmente, podemos observar uma viragem de rumo, o que é inédito desde 1945, depois da II Guerra Mundial…e devemos ajudar esse país a manter essa posição aceitável.

euronews – Acha que o discurso do presidente Ahmadinejad é útil num mundo em que o Irão tenta negociar e mostrar mais abertura, especialmente com o novo governo norte-americano, que parece mais receptivo do que o executivo anterior em relação ao Irão?.

MM – Está a tentar, diplomaticamente, ligar estas duas questões, não é necessário… mesmo se, nos Estados Unidos, há vários grupos que seguem essa linha de pensamento. Por isso temos de ter em conta e ligar todos os interesses, ou seja dos americanos, interesses de Israel.

euronews – Este tipo de retórica ajuda a manter uma posição de força nas novas negociações da administração norte-americana de Obama no Médio Oriente?

MM – A raíz da crise deve ser procurada na região e essa é a legitimidade deste regime na região, como foi estabelecido: a terra palestiniana não estava sem pessoas, porque palestinianos, muçulmanos, cristãos e judeus viviam lá. Tal como na Europa não há pessoas sem terra, eram cidadãos de diferentes países europeus, já lá viviam.

euronews – A sua apreciação é simplesmente racista em relação a outro país, Israel, e a população que vive na região? Que pensa sobre isso?

MM – Essa é uma interpretação errada do II encontro de Durban. Vamos em frente…

euronews – Não, não…era uma pergunta, o que responde a isto? Não acha a sua conversa racista também?

MM – Claro que não.

euronews – Porquê?

(riso sem resposta)

euronews – Porquê?

MM – Estamos a conversar sobre um problema, uma crise que é uma realidade numa região e ninguém pode resolver este problema. Nós tentamos explicar porque é problema sem solução. Não somos parte do problema, pelo contrário, na região sempre fomos parte da solução em relação ao Iraque, em relação ao Líbano, em relação ao Afeganistão.

euronews – Então, pode oferecer a cooperação para resolver os problemas no Iraque, no Afeganistão.

MM – Temos uma certa responsabilidade na região, e, nos últimos seis ou sete anos, desempenhámos um papel importante na política de desenvolvimento do Iraque, na institucionalização das várias estruturas do governo no Iraque, no Parlamento e outras, e apoiamos esse processo.

euronews – Que acha da política norte-americana do pau e da cenoura? Porque estende a mão ao Irão mas, com a outra mão, a secretária de Estado Hillary Clinton diz que estão a preparar sanções contra o Irão para o caso da questão nuclear não se resolver.

MM – As políticas experimentadas no passado sem atingir resultados deviam servir para lembrar as diferentes partes que é melhor reequacionar e estabelecer outras políticas diferentes.

euronews – Um embargo do Ocidente ao petróleo iraniano seria problemático?

MM – Se estiverem dispostos a decidir então vêem a nossa reacção, não se preocupe com isso….

euronews – Que tipo de reacção?

MM – Estudamos o assunto se decidirem tomar essa decisão.

sábado, 9 de maio de 2009

Ahmadinejad formaliza candidatura à eleição presidencial iraniana

Teerão - O presidente do Irão, Mahmud Ahmadinejad, formalizou oficialmente hoje (sexta-feira) no ministério do Interior sua candidatura para um segundo mandato à eleição presidencial de 12 de Junho, informou a agência Isna.

"Mahmud Ahmadinejad chegou ao ministério do Interior e formalizou oficialmente sua candidatura à eleição presidencial", disse a agência.

Eleito em 2005, o presidente ultraconservador vai disputar um novo mandato de quatro anos.

Indagado pela AFP sobre suas chances de reeleição, Ahmadinejad, 52 anos,afirmou: "Não penso nessas coisas, meu único objetivo é servir ao povo".

O dirigente já tinha se definido como um "servidor do povo" durante a campanha de 2005.

Desta vez, ele acrescentou: "Quando uma nação inteira vai às urnas, o resultado é sempre bom e surpreendente, e tenho boas esperanças".

Por enquanto, as principais candidaturas são as do ex-presidente do Parlamento, o reformador Mehdi Karubi, e do ex-líder dos Guardiões da Revolução, Mohsen Rezai.

O ex-primeiro-ministro e conservador moderado Mir Hossein Mussavi deve formalizar sua candidatura no sábado. Caberá depois ao Conselho dos Guardiões da Constituição examinar todas as candidaturas antes de anunciar, nos dias 20 e 21 de Maio, as pessoas autorizadas a se apresentar.

A campanha eleitoral deve começar em 22 de Maio e terminar na noite de 10 de Junho, na antevéspera da eleição.

Ahmadinejad é uma das figuras mais polêmicas do regime islâmico.

Eleito em 2005 para a surpresa de todos, ele gosta de se apresentar como um devoto do Islão e um homem do povo.

Ele se refere com frequência ao Mahdi, o 12º imã do Islã xiita. Os xiitas acreditam que Mahdi voltará para instaurar um reinado de justiça na Terra.

Ahmadinejad manteve um modo de vida muito simples, e costuma desde sua eleição visitar todas as aldeias de seu país, por mais isoladas que sejam.

Ele deflagrou uma grande polémica ao qualificar o Holocausto de "mito" e ao afirmar que Israel devia ser "varrido do mapa".

Também simboliza a recusa do Irão de suspender seu programa nuclear, que comparou a "um comboio sem travões e sem marcha a ré".

O dirigente ainda chamou de "meros pedaços de papel" as resoluções emitidas pelo Conselho de Segurança da ONU para punir a República Islâmica.

Ahmadinejad foi bastante criticado no Irão por causa de uma política económica cara, que segundo especialistas provocou uma forte inflação mas também aumentou a pobreza e o desemprego.

Porém, esta política condiz com sua promessa de "colocar o dinheiro do petróleo na mesa do povo".

Ele nunca deixou de defender os valores da Revolução Islâmica, o que lhe rendeu o apoio praticamente incondicional do guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei.

Para muitos analistas, Ahmadinejad tem grandes chances de ser reeleito. Outros consideram, porém, que a candidatura de Mussavi constitui para ele uma verdadeira ameaça. [fonte]